Ao cumprir dezenas de mandados de prisão de condenados por violências sexuais contra crianças e adolescentes e 27 autorizações de busca e apreensão, a força-tarefa da Operação “Araceli” realizou terça-feira (18) um arrastão em bairros de Campo Grande. A data é marcada no calendário brasileiro como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Também é o “Dia D” do chamado Maio Laranja, previsto pela Lei 5.118, de 12 de janeiro de 2017, do deputado estadual Professor Rinaldo (PSDB), incluindo no calendário estadual o Dia Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças.
Agentes do Ministério Público Estadual (MPMS), policiais civis e militares localizaram, em mais de 10 bairros, 20 das 27 pessoas que procuravam. Segundo o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, titular da 69ª Promotoria de Justiça, o objetivo era tirar essas pessoas de circulação para cumprir suas penas presas no sistema carcerário. A delegada Marília de Brito Martins, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), disse que além dos 27 mandados de prisão cumpridos, um dos condenados foi flagrado com munições.
Participaram da operação 150 Policiais Militares e 128 Policiais Civis. As equipes percorreram bairros como o Aero Rancho, Jardim Centenário, Jardim Canguru, Santa Emília, Parque do Sol, Tarumã, Moreninhas, Jardim Noroeste, Jardim Inápolis e Zé Pereira. Entre os presos, além de uma mulher de 53 anos, que mora no Santa Emília, está o ex-vereador e ex-líder comunitário da Coophavilla II, Robson Martins. Em maio de 2015 ele foi flagrado tentando extorquir o empresário e na época vereador Alceu Bueno, no estacionamento de um supermercado.
Martins chegou a ser preso por participação no esquema de exploração sexual de adolescentes, mas alegou que se tratava de golpe político. Após 40 dias na cadeia, recuperou a liberdade mediante um habeas corpus. Robson Martins dizia que era o vereador quem participava do esquema de prostituição de menores. A investigação apurou que Martins teria exigido R$ 15 mil para não divulgar fotos e vídeos mostrando Bueno com as adolescentes. O escândalo fez Bueno renunciar ao mandato. Ele morreu em setembro de 2016, assassinado – seu corpo, carbonizado, estava em uma área deserta do Jardim veraneio, em Campo Grande.
NÚMEROS IMPRESSIONAM
De acordo com o promotor Marcos Alex, em 1.677 inquéritos na promotoria, 78% são relativos a crimes contra as crianças e adolescentes. Para ele, é um número assustador e preocupante. Ele disse ainda que 93% desses crimes são cometidos dentro de ambientes com vínculos familiares. As vítimas preferenciais são as meninas (cerca de 96%), enquanto 4% são meninos. Os dados revelam que 13% dessas vítimas possuem idades entre 1 e 5 anos e 74% entre 06 e 13 anos.
A data foi instituída pela Lei Federal 9.970, de 2000, escolhida em alusão ao “Caso Araceli”, a menina que aos 8 anos foi raptada, drogada e violentada física e sexualmente por vários dias, antes de ser morta, ter seu corpo desfigurado por ácido e abandonado em um terreno baldio em Vitória, no Espírito Santo. Araceli Cabrera Sánchez Crespo foi assassinada em 18 de maio de 1973. Vinte e um anos depois da criação da lei e 48 anos após a morte da criança, o crime segue impune.