Incensado como um dos homens mais corajosos e inatacáveis do País por sua atuação como juiz federal autor de sentenças implacáveis contra os figurões do crime organizado, Odilon de Oliveira esbarra em mais um fato que ameaça borrar a fama que o impulsionou para a política. Depois de ser acusado de condutas ilícitas no exercício da magistratura por um ex-assessor, agora tornou-se alvo de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Justiça Federal.
Segundo as informações obtidas pelo portal JD1 Notícias, a abertura do PAD foi instaurada após julgamento no Tribunal Federal da 3ª Região (TRF-3). O placar de 16 votos a 2, amplamente a favor da medida, põe Odilon sob suspeita de irregularidades na gestão e fiscalização de trabalhos pelos quais era o responsável quando chefiava a 3ª Vara Federal Criminal da Subseção de Campo Grande.
O foco das suspeitas seria um processo de credenciamento, acompanhamento e descredenciamento das administradoras Anna Cláudia Barbosa de Carvalho e Alessandra Machado Alba “e, em específico, a relação que o magistrado detinha com Anna e seu genitor”. Informa a documentação obtida pelo portal que os autos tratam de “uma suposta distribuição de bens apreendidos sob responsabilidade da 3ª Vara Federal a terceiros, valores repartidos em pequenas parcelas em razão de transação penal ou suspensão condicional do processo, a posse e uso de gravador ambiental, inclusive nas dependências da Justiça Federal”, além do fornecimento de senhas pessoais a servidores públicos sob a tutela de Odilon.
O corregedor regional do TRF-3, desembargador Caros Muta, entendeu que, “embora no estado da presente cognição, diante dos elementos apontados, seja poder-dever do Tribunal a abertura de processo administrativo disciplinar”.
PROJEÇÃO
Com presença midiática em veículos de comunicação do Brasil e do mundo, Odilon de Oliveira teve sua carreira na magistratura inspirando reportagens que o alçavam à condição de símbolo no combate à corrupção e ao crime organizado. As imagens em que aparece escoltado por agentes federais armados até os dentes ou trabalhando nas madrugadas entre pilhas e pilhas de processos criminais que levaram dezenas de chefões do narcotráfico e do contrabando à prisão, deram a ele uma visibilidade tão ampla que o chamado da política o assediou impositivamente.
Aposentou-se da magistratura e decidiu aceitar o convite para disputar um cargo político. Quis começar de cima, candidatando-se a governador após ingressar no PDT. As pesquisas o colocavam nas primeiras posições, com pontuações que davam a ele o primeiro ou o segundo lugar, mas sempre cotado para ir ao segundo turno.
O ex-juiz federal não tinha, no entanto, a consistência e a coerência política e programática necessária para cumprir um papel partidário. Foi o que demonstrou com a infidelidade partidária que escancarou ao ignorar Ciro Gomes, candidato de seu partido à presidência da República, para apoiar pública e ostensivamente Jair Bolsonaro, do PSL.
Havia prometido também não aceitar corruptos ou suspeitos de corrupção em seu palanque, porém não cumpriu a promessa e fez a campanha articulado com integrantes de forças políticas e empresariais que hoje são alvos de investigações policiais, acusadas de comandar esquemas de corrupção e outros crimes. A força de seu nome na política garantiu a eleição do filho, Odilon Júnior, para uma vaga na Câmara de Vereadores de Campo Grande. No início do ano o ex-juiz Odilon deixou o PDT e disse que pode concorrer por outro partido à Prefeitura ou novamente ao Governo.