Na delação premiada que fez à 3ª Vara Federal, o empresário Ivanildo da Cunha Miranda forneceu alguns detalhes sobre como entregava a André Puccinelli o dinheiro obtido em propinas com o Grupo JBS e outros frigoríficos contemplados por benefícios fiscais do governo estadual. Segundo Ivanildo, 90% desses repasses aconteceram no apartamento de Puccinelli, no Edifício Champs Elysées, em Campo Grande. Era uma agenda que, segundo o delator, Puccinelli fazia questão de ser cumprida pontualmente.
No início, Ivanildo conta que recebia de R$ 60 mil a R$ 80 mil mensais de comissão. Mas depois exigiu do então governador um reajuste e chegou a faturar mais de R$ 250 mil mensais. Além do JBS, também abasteciam esse propinoduto os frigoríficos Independência, Marfrig e Bertin. O Independência pagou de 2007 a 2010, de R$ 60 mil a R$ 80 mil mensais; o Marfrig, de 2007 a 2011, de R$ 100 mil a R$ 150 mil por mês; e o Bertin, de 2007 a 2010, de R$ 250 mil a R$ 300 mil mensalmente.
Ivanildo afirmou que só em 2014 Puccinelli chegou a receber R$ 20 milhões de propina da JBS. O delegado da Polícia Federal, Cleo Mazzoti, disse que além dos R$ 20 milhões, também havia depósitos de R$ 2 milhões. Mazzoti informou que uma auditoria vai investigar o montante exato. “Na maioria das vezes a propina era em dinheiro vivo e entregue ao Puccinelli. Outras vezes Ivanildo fazia depósitos para o ex-governador em contas que ele passava”, relata. Puccinelli é apontado como o chefe do esquema, pois teria negociado isenções fiscais e benefícios que estavam sendo pagos ilicitamente. “A investigação entende que ele [o ex-governador] tinha um papel central, porque era beneficiário e garantidor de todo o esquema”, acrescentou.
ESPECIALISTA
Quem acompanha nas minúcias os bastidores da política no Estado sabe do incrível alcance do operador Ivanildo Miranda na movimentação de dinheiro. Ex-gerente de banco, antes de ingressar na política tornou-se fazendeiro e montou uma revendedora de bebidas. Em 2006 foi convidado por Puccinelli para ir em busca de recursos de campanha eleitoral junto aos frigoríficos. A missão foi realizada com êxito, sobretudo junto à J&F, holding que abriga o grupo JBS, da família Batista.
Desde então, recebendo gordas comissões para repassar as propinas, Miranda vem registrando um miraculoso crescimento patrimonial. No entanto, começou a ser alvo de suspeitas quando entrou na lista de envolvidos citados em delações de vários investigados da Operação Lava Jato, entre os quais o empresário e seu amigo Joesley Batista, um dos sócios-proprietários do JBS, e o doleiro Lúcio Funaro, operador de propinas do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB).