Sem espaço dentro do PMDB (hoje MDB) para satisfazer o desejo de seu líder, sócio, amigo e padrinho político, Edson Giroto embarcou em outra canoa partidária e nela tentou alçar voo rumo à Prefeitura. A canoa era tão furada quanto a do chefe, André Puccinelli.
O projeto da dupla de controlar os poderes estadual e municipal de Mato Grosso do Sul e Campo Grande deu certo durante 20 anos. Mas naufragou quando a ambição sem limites passou a ser monitorada de perto pela Polícia e, em 2014, a Operação Lama Asfáltica iniciou a fase mais incisiva de investigação do bilionário esquema de desvio de recursos públicos liderado, segundo a PF, por Puccinelli.
Na semana passada, após quatro anos de investigações, mandados de prisão, busca e apreensão, inquéritos, bloqueio de bens e enquadramento de dezenas de pessoas, o grupo do ex-governador emedebista sofreu um de seus mais duros golpes. O ex-secretário de Obras e ex-deputado federal Edson Giroto, preso em uma cela no presídio da capital, foi condenado. Na primeira sentença decorrente da Operação Lama Asfáltica, Giroto recebeu a sentença: nove anos, dez meses e três dias de prisão em regime inicial fechado.
O cunhado, Flávio Henrique Garcia Scrocchio, foi condenado a sete anos, um mês e quinze dias, também em regime fechado, e Rachel Rosana de Jesus Portela, esposa de Giroto, cumprirá a pena de cinco anos e dois meses em regime semiaberto. Com a decisão, do juiz da 3ª Vara da Justiça Federal, Bruno Cézar da Cunha Teixeira, as penas somadas ultrapassam 22 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens, direitos ou valores, previstos na Lei n.º 9.613/98.
Por se tratar de condenação de primeira instância, cabe recurso. A defesa ainda não se manifestou sobre a decisão. Giroto e Flávio que estão sob prisão preventiva devem permanecer em regime fechado até julgamento em segunda instância, no caso da defesa recorrer da decisão. Rachel cumpre prisão domiciliar. O juiz citou a denúncia inicial feita em decorrência da Operação Lama Asfáltica, segundo a qual existia uma “organização criminosa, composta por políticos, funcionários públicos e administradores de empresas contratadas pela Administração Pública” que funcionou entre os anos de 2007 a 2014 na Secretaria de Obras do Estado, à época comandada por Giroto.
O GRUPO
Além de Edson Giroto, do seu cunhado Flávio e da mulher Raquel, o ex-governador André Puccinelli era o guarda-chuva – com os cofres do Estado – de outros privilegiados parceiros, entre eles os megaempresários João amorim e João Baird; o ex-secretário de Fazenda, André Cance; o ex-prefeito e ex-presidente da Agesul, Wilson Roberto Mariano; o dono da Gráfica e Editora Alvorada, Mirched Jaffar Jr, além de servidores públicos e empregados das empresas envolvidas.
A expectativa da sociedade é que agora, com a condenação de Giroto, os demais envolvidos, entre os quais o líder do grupo, André Puccinelli, tenham suas situações definidas pelo Judiciário. As peças processuais disponíveis podem ser suficientes para os próximos julgamentos. De qualquer forma, os danos decorrentes desse enquadramento leal feito pela Justiça já provoca efeitos.
Vários envolvidos tiveram suas contas bloqueadas, foram presos, são investigados e politicamente a rede foi decepada, desde que Puccinelli, ao ser preso, desistiu de disputar o governo, deixando o MDB sem alternativa consistente para a disputa. Fora do poder e desgastado pelo mar de lama, o partido está reduzido ao que Puccinelli e seu grupo fizeram dele: um melancólico e rejeitado figurante.