A TV Cultura, rede de televisão pública brasileira, é a dona de um ‘tesouro’ que deixaria qualquer fã de tevê maravilhado: o acervo sobre a TV Tupi. Fundada em 1950 por Assis Chateaubriand, a Rede Tupi foi a primeira emissora de televisão do Brasil, da América do Sul e a quarta do mundo. Em seu acervo há grandes nomes que inspiram gerações pelo talento, força, coragem e atitude. As cantoras Elza Soares, Pitty e Cássia Eller, a pediatra e sanitarista Zilda Arns, a escritora Lygia Fagundes Telles, a jornalista Adriana Carranca, a escritora e militante Pagu, a arqueóloga Niède Guidon, a apresentadora Hebe Camargo e a filósofa Marcia Tiburi, são alguns exemplos, entre outros tantos que fizeram revelações inéditas sobre as suas vidas, carreiras e convicções.
O acervo da TV-E da Bahia é outra riqueza, que guarda momentos inesquecíveis de artistas e compositores que se inspiraram na beleza do lugar para escrever e cantar “a Bahia e o Brasil”, desde Caymmi, passando por Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros.
A TV-E de Mato Grosso do Sul, inaugurada há 30 anos, resguarda sua história em fitas U-Matics, Betacans e DVDs que somam cerca de 2.500 horas de gravações. No acervo encontram-se relíquias como o ‘Casarão da Fazenda’, programa da década de 90 que tem o ídolo Michel Teló e sua sanfona, aos 7 anos, cantando ‘Galopeira’. Além de Almir Sater, Paulo Simões, Geraldo Espíndola, Luan Santana, Grupo Acaba, Délio e Delinha, em apresentações iniciais em suas carreiras.
Em um pré-levantamento realizado pelo Fórum das Emissoras Estaduais Públicas de Rádio e Televisão foi constatado que, somadas as 18 emissoras Públicas Brasileiras, há pelo menos 120 mil horas de acervo, com programação cultural variadíssima, que necessita ser digitalizado. A proposta apresentada a 14 dirigentes estaduais na última reunião do Fórum das Emissoras Estaduais Públicas de Rádio e Televisão é que essas emissoras possam compor uma única “nuvem” para comercialização no mercado audiovisual brasileiro e do exterior.
Nesta quarta-feira (22) o Fórum anunciou as principais deliberações de Brasília, entre elas a proposta de criar “esse acervo comum, com potencial de monetização, o que beneficiará as emissoras detentoras dos acervos públicos”.
Presidido pelo jornalista Sérgio Kobayashi (TV É-Paraná), o Fórum pediu o acesso das emissoras públicas aos recursos do FSA (Fundo do Setor Audiovisual), administrado pela ANCINE (Agencia Nacional do Cinema) e que financia diferentes linhas de investimento.
No caso das linhas de financiamento dos Prodavs, por exemplo, somente em 2018 deverá ser injetado mais de R$ 100 milhões em financiamentos “que apresentem resultados de comercialização”. As 14 Emissoras Públicas obtiveram o “start” de seus dirigentes para iniciar o processo para a captação desses recursos através dessas linhas de financiamentos. “Aprovamos, na reunião, a disponibilização de nossos arquivos para comercialização, visando obter recursos do FSA (em uma linha de financiamento no mesmo modelo dos Prodavs) para que possamos digitalizar nossos acervos e posteriormente comercializa-los”, explicou o jornalista Bosco Martins, da TVE-MS.
Nesse sistema, com base em critérios vinculados, por exemplo, à compra de licenças ou a receitas das emissoras participantes, seriam gerados créditos ao beneficiário, correspondentes à alocação de investimentos do FSA. O Fundo participaria dos rendimentos obtidos pelas obras financiadas, cujos direitos são regulados pela ANCINE – em regra.
Kobayashi e Marcos Mendonça, diretor-presidente da TV Cultura de SP, adiantaram ainda que já haviam se reunido com a diretora da Ancine, Débora Ivanov, obtendo “sinal verde para a proposta”. Ainda de acordo com os dois dirigentes, participariam do projeto não só as emissoras públicas estaduais, mas também a Cinemateca Brasileira.
Mendonça ainda levantou outro ponto importante no processo de digitalização, que seria o reconhecimento dos materiais de cada emissora. “Esse trabalho todo não se resume só ao processo de digitalização. No real, o processo de catalogação que é complicadíssimo. Hoje a TV Cultura está se adaptando, porque temos computadores, sistemas, softwares que leem, reconhecem as pessoas. Mas se você não tiver esses programas, você tem que fazer manualmente. Não adianta nada termos digitalizado os acervos e não sabermos o que tem como material áudio visual. Então será um trabalho de lapidagem. Mas temos que entrar nesse mercado, essa questão da inteligência artificial e tudo mais permite que você consiga ter uma agilidade muito maior. A TV Cultura está encomendando um equipamento desses para poder fazer esse trabalho e disponibilizar para aquelas emissoras que fizerem parte do Fórum e afins”, declarou Mendonça.
Segundo Kobayashi, esse levantamento também é importante para saber os custos da digitalização. “Cada emissora tem que saber o que tem de acervo, para que a gente possa monetizar esses acervos. Porque a Ancine não entra com dinheiro simplesmente a fundo perdido. A Ancine entra com expectativa de ter receita sobre isso, mesmo que seja a longuíssimo prazo. Ainda que seja para recuperar em 30 anos. Ela faz o projeto, ela aprova e aplica o dinheiro”, explicou.
ECAD E O FIM DAS TAXAS PARA EMISSORAS
Bosco Martins, representando a região Centro-Oeste no Fórum, palestrou sobre a decisão inédita obtida pelo Governo do Mato Grosso do Sul contra o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), derrubando a cobrança das taxas para emissoras públicas e afins.
Agora não somente as emissoras públicas, mas também as comunitárias e universitárias estão utilizando da mesma jurisprudência contra a taxa do ECAD.