“Fantástico”, um programa que já foi quase unanimidade e teve audiência absoluta no País aos domingos, está perdendo o terreno da credibilidade e do interesse popular que havia conquistado desde sua estreia, em cinco de agosto de 1973. No domingo passado, ficou evidente um dos motivos que levam os telespectadores a abandonar, gradualmente, a atração que se mantém no ar há 46 anos: uma reportagem construída para atingir Rodrigo Silva, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Ficou claro, e por motivos absolutamente inquestionáveis, que a Rede Globo de Televisão estava levando aos lares brasileiros um enredo mais parecido com uma trama cinematográfica. A edição da reportagem direcionou suas informações no sentido de apresentar Rodrigo Silva como membro de uma organização criminosa e envolvida num plano que incluía a eliminação de uma pessoa e tirar dela uma quantia em dinheiro que seria o pagamento de uma propina relacionada a operações de compra e venda de gado com incentivos fiscais do Estado.
Antes de tudo, o erro maior e mais grosseiro nessa abordagem é o fato de que, no ano passado, uma denúncia semelhante e associada ao caso (de corrupção e lavagem de dinheiro) havia sido feita pelo Ministério Público Estadual contra o governador e derrubada por unanimidade no STJ (Superior Tribunal de Justiça). O MPE se baseou em uma denúncia feita pelo corretor de gado José Ricardo Guitti Guimaro, o Polaco, que num dia afirmou ter pago propina a representantes do governo e no outro dia, ao prestar depoimento, desmentiu a si próprio informando ter denunciado um fato inexistente.
Com efeito, logo após a exibição do “Fantástico”, Reinaldo Azambuja emitiu nota oficial e também deu entrevista afirmando que as denúncias eram ”requentadas” e frutos de “sensacionalismo midiático”. O governador afiançou que o filho é inocente, nada tem de relação com a suposta ”queima de arquivo” e ainda colocou à disposição toda a contabilidade dos negócios e movimentações financeiras da família.
“Esta matéria é requentada, remete a um tempo atrás quando atacaram minha própria pessoa. Agora procuram atingir meu filho querendo me atingir por tabela. Não adianta, é tentativa infrutífera. Eu e minha família nada temos a esconder e a temer”, reiterou Azambuja.
“É algo absurdo, todo mundo sabe que existe uma demanda judicial entre meu filho e o promotor de Justiça Marcos Alex Vera, inclusive foi aberta uma investigação no Conselho Nacional de Justiça para apurar todos os fatos”, observou. Acentuou ainda que ficou caracterizada uma perseguição por parte do promotor. O procedimento do MPE que denunciou Rodrigo e o lançou num processo foi instaurado em 2017 por solicitação de Marcos Alex Vera.
BOM FILHO
Azambuja lembra que foi inocentado no STJ por 11 votos a 0. E defende o filho novamente: “Rodrigo não participou em momento algum de queima de arquivo. Ele é um bom filho, um bom pai”. Outro detalhe citado pelo governador: foi o próprio “Fantástico” que pela primeira vez falou sobre propina e sobre Polaco. E estranha que ao ser inocentado pelo STJ por unanimidade a mídia global não deu uma linha.
“Infelizmente, temos órgãos de imprensa sensacionalistas, mentirosos, que requentam e dirigem a matéria para me atingir, para atingir a honra de pessoas honestas. Não conseguiram isso comigo, então passaram a acusar o meu filho”, indigna-se. Apesar de seus protestos, Azambuja defende que tudo seja esclarecido. “É preciso que se investigue tudo. Investigar, sim, mas não condenar. Eu não tenho qualquer dúvida da inocência do meu filho”, enfatiza.
Ao concluir, o governador dispara: “Este caso é o de um bando de picaretas, de fraudadores do fisco que não queriam pagar impostos. A Justiça fez a apuração e me inocentou por 11 a 0, e agora requentaram o mesmo assunto. Mas a verdade está ao meu lado, ao lado do meu filho”.
IRREGULARIDADES
Em entrevista ao CG News, Azambuja ratificou suas certezas sobre o caráter mal-intencionado da denúncia e da reportagem. “A verdade é que esse inquérito é antigo, está cheio de irregularidades, ilegalidades e arbitrariedades. Por isso, o meu filho, Rodrigo, denunciou o promotor do caso no Conselho Nacional do Ministério Público. Hoje existe uma sindicância apurando a conduta dele. Ou seja, ele é investigado! É muito estranho que essa matéria da Globo aconteça exatamente no momento em que o promotor é questionado, investigado. É a mídia fazendo pressão, como sempre, talvez para tentar justificar o injustificável”.
O dirigente tucano diz que a verdade vai prevalecer e que acionará a Justiça para apurar responsabilidades e punir os responsáveis. “Como qualquer cidadão injustiçado, vou buscar meus direitos, denunciar o abuso de poder e o sensacionalismo, e responsabilizar os que, de forma covarde, têm atacado a minha honra e a minha família. Este é um caso de ficção, trata-se de uma acusação de um assassinato que não aconteceu, do dono de uma propina que ele mesmo, em depoimento à Polícia Federal, diz que nunca recebeu”.
SEM EXPLICAÇÃO
Estranhamente, a Globo ignorou uma nota elaborada pelo governador e enviada ao programa com sua manifestação sobre a reportagem.
Normalmente, no jornalismo isento e responsável, fatos que geram controvérsias ou polêmicas são divulgados com as opiniões e posições dos protagonistas da notícia. Não foi o que aconteceu no domingo e nem nos dias seguintes durante a programação. A emissora sequer se explicou sobre essa omissão.
Preparada logo que a emissora passou a divulgar chamadas sobre a matéria, a manifestação do governador que a Globo recebeu e não divulgou é esta:
“Nota de Repúdio
O governador Reinaldo Azambuja e sua família vêm a publico manifestar indignação e repúdio às chamadas divulgadas pela Rede Globo na sua programação e à matéria apresentada no Fantástico deste domingo fazendo acusações absurdas e desprovidas de qualquer prova material contra seu filho, Rodrigo.
O governador entende que o processo que investiga seu filho está repleto de falhas, ilegalidades e arbitrariedades, e por isso terá o mesmo destino da acusação anterior contra o governador, em relação aos mesmos fatos, que foi arquivada por onze votos a zero no Superior Tribunal de Justiça.
Inclusive, o procedimento que investigou seu filho é objeto de apuração, através de sindicância no Conselho Nacional do Ministério Publico, para averiguação das irregularidades e legalidade praticadas.
O governador Reinaldo Azambuja denuncia o abuso de poder cometido neste caso e lamenta que a Rede Globo trate do assunto de forma sensacionalista”.