Quatro dos prefeitos que governaram Campo Grande desde 1979, quando a cidade ganhou autonomia política e administrativa, enfrentam desde agora um desafio novo que pode atrapalhar seus planos políticos para o futuro, principalmente se existir a intenção de candidatar-se a posto eletivo em 2018. Ser prefeito da capital, que antes era considerado um trampolim automático e confortável para voos mais altos, especialmente para chegar ao governo, agora revela-se também um cargo que tem sua maldição.
Até às últimas eleições gerais, em 2014, o fato de administrar o maior colégio eleitoral de Mato Grosso do Sul bastava como credencial para disputas com alcance em todo território nacional. Com esse status de excelência no currículo, foram eleitos deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores.
Fazem parte dessa lista os ex-prefeitos Marcelo Miranda, Albino Coimbra, Levy Dias, Lúdio Coelho, Juvêncio César da Fonseca, André Puccinelli e Nelsinho Trad. Com a força política e eleitoral consolidada no comando da gestão de Campo Grande, dois chegaram ao Governo: Miranda, que também foi senador, e André Puccinelli. Pelo Senado passaram ainda Levy, Lúdio e Juvêncio, enquanto Coimbra tornou-se deputado federal e Nelsinho estadual.
Contudo, a aura de prefeito da cidade, antes tão positiva, adquiriu tons cinzentos desde que dois fatores passaram a interferir no comportamento dos eleitores: a cobrança da sociedade pelo desempenho de seus governantes tornou-se mais efetiva e, além disso, foram intensificadas as operações de combate à corrupção. Assim, alguns mitos perdem a majestade no imaginário popular e as consequências nas urnas podem ser danosas.
OS CENÁRIOS
Para 2018, desenha-se um arco de possíveis candidaturas de três ex-prefeitos. Puccinelli (PMDB) é nome cotado para disputar a sucessão estadual. Nelsinho está entre as principais opções na briga por uma das duas vagas do Senado. E Bernal circula perifericamente de olho em oportunidades que vão da Assembleia Legislativa, passam pela Câmara dos Deputados e projetam até a ambição de concorrer a cargos majoritários (Governo ou Senado).
Um quarto nome, o de Gilmar Olarte (sem partido), é carta fora do baralho. Era vice-prefeito de Bernal, assumiu beneficiado por um processo de afastamento do titular em que foi peça decisiva e durante os pouco mais de ano e meio que ocupou o cargo lambuzou-se tanto em trambicagens que acabou denunciado pelo Ministério Público, preso e condenado. Conseguiu sair da cadeia em regime de liberdade vigiada, mediante uso de tornozeleiras eletrônicas. Por definição da lei, está inelegível.
Uma avaliação desapaixonada e objetiva sobre as chances do trio de ex-prefeitos que pede passagem para 2018 indica que existem prós e contras nesse caminho. Em primeiro lugar, e a bem da verdade, tratam-se de lideranças consolidadas no município. Cada um tem seu expressivo quinhão junto aos eleitores. Mas – e aí está o contra – o cacife eleitoral esbarra no déficit ético, político e social. Puccinelli e Nelsinho estão na mira dos órgãos de fiscalização e controle, denunciados e investigados em operações locais e nacionais de combate à corrupção.
PRÓS E CONTRAS
São muito pesadas e desgastantes as cargas de suspeita e desqualificação que Puccinelli e Nelsinho terão sobre seus ombros enquanto não se livrarem das montanhas de processos e inquéritos. Para tornar seus horizontes políticos mais turvos, algumas sentenças condenatórias já foram expedidas, como o bloqueio de bens de Nelsinho, acusado pelo MP de corrupção em contratos sob suspeita, como na contratação do Gisa, um programa de gestão para o sistema de saúde. Puccinelli tem a seu desfavor uma série de denúncias do MP e até a passagem constrangedora em que, depois de uma batida da Polícia Federal em sua residência, foi obrigado a colocar tornozeleira eletrônica na condição de principal suspeito em um esquema de desvio de verbas investigado na Operação Lama Asfáltica.
Quanto a Alcides Bernal (PP), seu desgoverno à frente da Prefeitura responde com sobras. Foi um dos mais desastrosos desempenhos de um administrador municipal que a cidade já conheceu em seus mais de 115 anos. De cidade mais bela e desenvolvida do País, a Campo Grande do período Bernal ficou conhecida nacionalmente como a capital dos buracos. Entregou seu mandato sem deixar saudades. E daí em diante, se depender da boa-vontade dos eleitores locais para retornar ao primeiro plano político conquistando um mandato, sabe que suas chances são reduzidas para voos mais altos que uma vaga na Assembleia Legislativa.