Em Mato Grosso do Sul, aproximadamente 1,9 milhão de eleitores estarão aptos para ir às urnas em outubro e escolher prefeitos, vices e vereadores de 79 municípios. Por causa disso, mais de 34 partidos registrados na Justiça Eleitoral começam a espremer o cérebro em busca de avaliações e respostas na tentativa de preparar a melhor estratégia para seduzir o eleitor e conquistar os cargos em disputa.
As eleições municipais vão testar a força, o crédito e a capacidade das agremiações. Ao menos dois dos grandes paridos, o MDB e o PT, estão com sua vida complicada e devem chegar aos palanques com o peso dos desgastes que acumularam nos últimos oito anos. Desde as eleições de 2012, emedebistas e petistas vêm sofrendo amargos resultados nas urnas – e desta vez tudo indica que a maré de revezes ainda não acabou.
Na outra face dessa moeda, a realidade é diferente. Nela se encontram partidos com saldos positivos e estimulantes alcançados em eleições recentes e com uma tendência considerável de que sejam repetidos e até melhorados. São os casos do PSDB, PSD, DEM e PSB – além dos novatos, como o PSL. Patriotas e Solidariedade, em menor proporção.
Uma análise baseada na lógica da conjuntura política e nos números do desempenho eleitoral em Mato Grosso do Sul, demonstra que os tucanos ascenderam ao melhor patamar de sua história de disputas no Estado. O partido saiu das urnas de 2016 com 36 prefeitos eleitos e fechou o ano passado com 45, além da perspectiva de ampliar esse universo em mais quatro ou cinco gestores municipais.
Assim, sem considerar as novas filiações, os eleitores deram ao PSDB quase 47% dos prefeitos, enquanto o MDB (então PMDB), que havia conquistado 23 prefeituras em 2012, elegeu 17, ou quase um terço de perdas. Pior ainda foi o resultado do PT, que tinha 12 eleitos em 2012 e quatro anos depois não elegeu um único prefeito.
Além da liderança marcante de Azambuja e do protagonismo de expressões como os deputados federais Rose Modesto e Beto Pereira e os deputados estaduais Paulo Corrêa (o presidente da Assembleia Legislativa), Rinaldo Modesto, Felipe Orro, Onevan de Matos e Marçal Filho, vários prefeitos bem avaliados e vereadores atuantes, o tucanato sul-mato-grossense conta com forças classistas e sociais de grande influência popular.
No lado oposto, as legendas que deveriam ser as mais poderosas oposicionistas estão perdendo terreno a cada disputa eleitoral. Com isso, sua influência, que já foi das mais determinantes em anos anteriores, esvazia-se de maneira impressionante, haja vista a quantidade e a qualidade de lideranças que pediram desfiliação dessas duas legendas.
Para citar alguns exemplos: o MDB e o PT viram alguns de seus personagens históricos migrarem para outras siglas. O emedebista Edinho Takazono, prefeito de Anaurilândia, era emedebista histórico até transferir-se para o PSDB no ano passado. De 2016 para cá o PT também vem acumulando perdas significativas, como as dos ex-prefeitos e prefeitos Mário Kruger, de Rio Verde; Marquinhos do Dedé, de Vicentina; Paulo Duarte e Ruiter Cunha (falecido), de Corumbá; Eledir Barcelos, de Santa Rita do Pardo; Vanderlei Bispo, de Japorã; e Arlei Barbosa, de Nova Alvorada do Sul.
Além dos vice-prefeitos e vereadores que entraram na onda da debandada, as bancadas parlamentares foram reduzidas também. Na legislatura de 2007 a 2011, eram sete os deputados emedebistas na Assembleia Legislativa. Em oito anos o partido perdeu mais da metade e a bancada conta hoje com apenas três votos, os de Eduardo Rocha, Márcio Fernandes e Renato Câmara. No mesmo período o PT chegou a ter uma bancada de quatro estaduais, que caiu para apenas dois agora, Pedro Kemp e Cabo Almi.
O CENÁRIO
Os líderes das siglas mais fortes ou de maior tradição começam a fazer as contas para que sejam traçadas as estratégias do confronto. No maior colégio eleitoral, Campo Grande, o prefeito Marquinhos Trad terá a reeleição facilitada se tiver Reinaldo Azambuja em seu palanque.
O governador disse e repete à exaustão que, se depender dele, a aliança será consumada. Contudo, democraticamente prefere deixar a decisão para o diretório, de olho também numa resolução nacional que determina ao PSDB disputar com seus próprios filiados as prefeituras de cidades com mais de 100 mil eleitores. Na verdade, tal resolução pode ser derrubada. É frágil, porque ignora as conjunturas domésticas e obriga o partido a dar as costas aos aliados de quem tiveram ajuda substancial nas eleições anteriores.
Tudo indica que Azambuja não quer fazer parte desse capítulo contraditório, que o levaria a renegar a dívida de gratidão com o prefeito que o apoiou e ainda dividiria seu próprio partido entre quem quer a aliança e quem defende chapa própria. Azambuja tem entre suas grandes virtudes a de ser grato, mesmo reconhecendo que o PSDB dispõe de nomes eleitoralmente viáveis para a disputa. Outro detalhe: a troca de apoios, iniciada em 2018, pode estender-se a 2022, caso o governador aceite a sugestão de candidatar-se ao Senado.
Assim, na capital o PSDB teria dois caminhos: se lançar chapa própria, os nomes mais cotados são os deputados federais Rose Modesto (quase ganhou em 2016, quando levou a disputa para o segundo turno) e Beto Pereira, o secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel, e o vereador João Rocha. Se optar pelo apoio a Marquinhos e se indicar o vice, as primeiras opções estão entre Rocha, Riedel e Carlos Alberto Assis.
DESAFIOS
No MDB, embora a direção tenha anunciado que o partido terá candidatura para enfrentar Marquinhos e demais adversários, cresce a tendência favorável a que o partido lance apenas chapa proporcional (para a Câmara de Vereadores) e procure fazer uma coligação na majoritária, indicando o nome para vice. São três os pré-candidatos: o ex-senador Waldemir Moka, a ex-secretária do Trabalho, Tânia Garib; e o deputado estadual Márcio Fernandes.
O que mais atrapalha o MDB não é nome para disputar. É o desgaste acumulado durante todos os anos que se sucederam à passagem de André Puccinelli pelo governo de Mato Grosso do Sul. Além de quebrar o Estado, lançando-o num abismo de dívidas, corrupção e centenas de obras inacabadas, o ex-governador foi denunciado em casos de corrupção que o carimbaram para sempre. Sua ficha política hoje contém as vitoriosas performances eleitorais (deputado estadual e federal e investiduras como prefeito da capital e governador, ambas em dois mandatos cada) e a maculada imagem do político sendo preso, algemado e até usando temporariamente tornozeleira eletrônica, acusado de liderar uma rede de desvios bilionários de verbas públicas.
Com o tombo do mito “tocador de obras” caiu também o MDB. Resta saber qual o apelo a ser feito este ano para atrair o eleitor e tentar, quem sabe, recuperar parte do prestígio que a legenda teve durante décadas.
O PT segue em idêntica toada, vivendo dramas semelhantes aos do MDB. Pesa nos ombros dos petistas a carga dos desgastes nacionais e locais, que levaram à prisão ou às manchetes de escândalos algumas de suas maiores expressões e fizeram imensa parcela do eleitorado derrotar seus candidatos ou apoiar quem se levantasse contra o PT, um fenômeno retratado na eleição do presidente Jair Bolsonaro.
O ex-governador Zeca do PT, a estrela máxima da sigla em Mato Grosso do Sul, não passou no teste das urnas para o Senado e, desiludido com a política, anda pensando em buscar seu renascimento como candidato a prefeito em uma de seis cidades que lhe convidaram para a disputa sucessória. O PT deve entrar na sucessão campo-grandense lançando mão do deputado estadual Pedro Kemp.