À exceção do Senado, onde as eleitas de Mato Grosso do Sul são maioria (2 a 1), as demais representações políticas locais são dominadas pelos homens. Na Câmara dos Deputados, eles são sete numa bancada de oito titulares. As 24 cadeiras da Assembleia Legislativa são 100% ocupadas por políticos do sexo masculino. Para as 79 prefeituras, apenas sete mulheres foram eleitas em 2016 – e o número reduziu para seis com a cassação do mandato da prefeita Marlene Bossay (MDB), de Miranda, no ano passado.
Haverá este ano uma chance – a única – de modificar este cenário. Em outubro serão definidos nas urnas os (as) próximos (as) prefeitos (as). Pela lógica, a dedução é simples, mas não vem regulando: segundo o Tribunal Regional Eleitoral, até 31 de dezembro as mulheres eleitoras superavam com folga os homens. Dos 1,8 milhão de votantes elas são maioria, com 984,1 mil títulos eleitorais contra 895,3 mil deles.
Em 2016 foram eleitas somente 641 prefeitas (ou 11,57% do total) neste Brasil que tem 5.570 prefeituras. Foi uma queda em relação a 2012, quando se elegeram 659 prefeitas. Em Mato Grosso do Sul as cidades que há quatro anos elegeram mulheres são: Dourados, Délia Razuk (PR); Fátima do Sul, Ilda Machado (PR); Antônio João, Márcia Marques (PMDB); Corguinho, Marcela Lopes (PSDB); Miranda, Marlene Bossay (MDB); Juti, Laka (MDB); e Iguatemi, Dra. Patrícia (PSDB).
Nos três primeiros anos de mandato algumas gestoras mudaram de partido. Délia Razuk, por exemplo, migrou do PR para o PTB, apadrinhada pelo ex-senador Delcídio do Amaral. A mesma Délia ainda não se decidiu sobre o futuro político e faz mistério. Mas há quem interprete seu silêncio como um procedimento normal para quem acumula profundos desgastes em consequência de operações de combate à corrupção que atingiram sua gestão e a base de sustentação, com vereadores aliados presos e cassados.
INTERIOR
No interior, as articulações envolvendo opções femininas são bem mais intensas que em outras disputas, a começar pelas prefeitas que devem ou podem tentar a reeleição. É o caso da farmacêutica Elizângela Martins Biazotti dos Santos, a Laka, do PSDB. Ela foi eleita com 61,78% dos votos, derrotando o contador Gílson Cruz (PSD). Sua chapa foi totalmente feminina: a vice é a professora Cláudia de Sena Ribeiro. Juti começou a romper o ciclo machista em 2012, quando as urnas elegeram Isabel Cristina Rodrigues, a Bel (DEM), que recebeu 54,29% dos votos.
Provável candidata à reeleição, a odontóloga Patrícia Margatto (PSDB), prefeita de Iguatemi, conquistou o mandato derrubando quatro candidatos homens. Teve 35,97% dos votos, suplantando Carlos Adão Lopes (MDB), Ivonei Santana (PSD), Onildes Barros Rodrigues (PMN) e Jorge Ferreira Mendes (SD).
Em Corguinho, com 58,74% dos votos a enfermeira Marcela R. Lopes (PSDB) derrotou o pecuarista Beto Laurindo de Oliveira (PTB) e vai tentar a reeleição. O seu projeto tem dois motivadores consistentes: os resultados da gestão e o apoio de um cabo eleitoral de muito prestígio na região, seu pai, o ex-prefeito Ubaldo Ribeiro Lopes. Já no caso de Antônio João, a prefeita Márcia Marques (MDB) carrega consigo um apelo dos mais comoventes: a memória inapagável de seu marido, o prefeito Juneir Marques, muito querido pela população. Juneir estava em seu segundo mandato consecutivo quando faleceu, em junho de 2011, vítima de um acidente automobilístico.
OUTROS MUNICÍPIOS
Em Porto Murtinho pode surgir um nome feminino na disputa sucessória. As vereadoras Fátima Vidote (PR) e Sônia Ferreira (PSDB), e a ex-vereadora Regina Hein (PSDB), estão disponíveis, caso não empolgue o projeto de reeleição do prefeito tucano Derlei Delevatti. Os murtinhenses já elegeram uma prefeita, Myriam Silvestre dos Santos (PT), em 1996.
A dose feminista quase foi repetida em 2012, quando Rosângela Batista venceu por 83 votos o petista Heitor Miranda (PT), marido de Myriam. Mas o “padrinho” da candidata, o prefeito tucano Nélson Cintra, para garantir a eleição da protegida, cometeu abusos eleitorais, chegando a fazer propaganda eleitoral em uma rádio do Paraguai. Rosângela e o vice tiveram os registros de candidatura cassados e os direitos políticos suspensos. Heitor tomou posse e governou os quatro anos.
AS PIONEIRAS
Em Itaquiraí, ano de 2004, a professora e empresária Sandra Cassone tornou-se a primeira prefeita na história do município. Cumpriu dois mandatos consecutivos até 2012, recebendo em três anos consecutivos o Prêmio Prefeito Empreendedor do Sebrae. Trocou o PT pelo MDB, a convite do ex-governador André Puccinelli. Está na conta das prioridades eleitorais dos emedebistas para as eleições deste ano.
A médica Viviane Orro (PSD) tentará reproduzir o feito de Sandra Cassone em Iguatemi e ser a primeira mulher a governar Aquidauana. Para isso ela precisa derrubar o favoritismo do prefeito Odilon Ribeiro (PSDB), que passou três anos administrando praticamente sem oposição e beneficiado pelas intervenções decisivas do governador Reinaldo Azambuja, e também o vereador pedetista Yussif Saliba, o mais votado de 2016. Viviane é esposa do deputado estadual Felipe Orro (PSDB), considerado em pesquisa a liderança política mais influente no município.
A ex-primeira-dama de Maracaju, Giovana Corrêa Vargas (DEM), está pedindo licença e abrindo caminho para entrar no mês de julho como candidata à sucessão do prefeito Maurílio Azambuja (MDB). Esposa do ex-prefeito Celso Vargas, ela tem o apoio do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que a designou para levar toda sua experiência à Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas da Mulher.
A advogada Raquel Portioli (PSL) já tem consigo um dos impulsos políticos e pessoais mais influentes da atualidade: o incentivo do presidente Jair Bolsonaro para seus projetos políticos. Com isso, entra nesta conta a candidatura para prefeita de Ponta Porã. Seu maior adversário, em princípio, é o atual prefeito, Hélio Peluffo (PSDB). Ela quer encarar o desafio e sair das urnas em outubro como a pioneira da história a governar os pontaporanenses no âmbito municipal.