A Comissão Parlamentar de Inquérito instituída pelo Senado para investigar a atuação do governo federal na pandemia do coronavírus sai do recesso parlamentar e retoma esta semana os trabalhos iniciados em abril. Os integrantes da CPI da Covid dividiram suas ações em subgrupos para acelerar e organizar melhor a investigação sobre suposta omissão e corrupção do Planalto. Os documentos serão apurados por sete núcleos, o que significa um aperto no cerco do Senado às transações que estão sob suspeita.
O colegiado é presidido pelo amazonense Omar Aziz (PSD/AM). Randolfe Rodrigues (Cidadania/AM) é o vice e Renan Calheiros (MDB/AL) o relator. A “força-tarefa” da CPI conta com o reforço de senadores de vários partidos, entre os quais duas mulheres, Simone Tebet (MDB-MS) e Eliziane Gama (Cidadania-MA), que não são titulares, mas têm comparecido aos depoimentos e acompanham as investigações.
A defesa governista está confiada a escudeiros do presidente Jair Bolsonaro, entre os quais o seu líder Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE), o vice-líder Marcos Rogério (DEM/RO) e voluntários, como Flávio Bolsonaro (Patriota/RJ), filho do presidente, Soraya Thronike (PSL/MS) e Ciro Nogueira (PP/PI).
CONTRATO
A compra da vacina indiana Covaxin será avaliada por suspeita de corrupção. O Ministério da Saúde fechou contrato com a Precisa Medicamentos e a farmacêutica indiana Bharat Biotech para adquirir 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão. O contrato foi suspenso por recomendação da Controladoria-Geral da União (CGU). Cada dose custaria US$ 15, preço mais caro dentre os imunizantes comprados no País. O valor do contrato não foi pago, mas está empenhado.
Outro núcleo, o de Randolfe Rodrigues, vai apurar a ação de intermediários na compra de vacinas. O grupo de Humberto Costa (PT/PE) vai mirar nas denúncias do ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, sobre possíveis irregularidades na administração de hospitais federais fluminenses. Costa investigará também os ganhos milionários de farmacêuticas na venda de medicamentos com ineficácia comprovada contra a Covid, como a cloroquina e a ivermectina.
Outra linha de investigação – a cargo do relator Renan Calheiros e do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) – vai focalizar o negacionismo do governo federal no enfrentamento da pandemia e na propagação de fake news. A CPI já identificou 68 perfis em redes sociais e agora vai atrás dos donos.
“MÁSCARAS NOCIVAS”
Nebuloso também é o capítulo das palestras financiadas pelo Ministério das Relações Exteriores, em parceria com a Fundação Alexandre Gusmão. Um dos vídeos abordava a “nocividade do uso de máscaras”. Parte da apuração seguirá o caminho do dinheiro das fake news e mapeará os pagamentos da Secretaria de Comunicação para agências de publicidade, pessoas e influenciadores que faziam campanha pela cloroquina e contra a vacina e insuflavam a população a ir para as ruas, contrariando as orientações de isolamento social.
A investigação da CPI tem a ajuda ainda de policiais federais, que estão auxiliando no cruzamento de dados e no mapeamento de relações entre os alvos. O período de recesso da CPI vai ser aproveitado pelos núcleos para acelerar a apuração dos senadores. Os subgrupos terão suas frentes de investigação, mas poderão contribuir uns com os outros.