Na sexta-feira (25) um servidor de carreira do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, e o seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), relataram à CPI da Covid que em 20 de março estiveram com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada para relatar que estavam ocorrendo graves irregularidades na compra da vacina Covaxin. Luis Ricardo descreveu que vinha sofrendo pressões por parte de seus superiores para autorizar uma importação da vacina indiana com pagamento antecipado de US$ 45 milhões para uma empresa sediada em um paraíso fiscal e com quantitativo menor do que rezava o contrato.
Os dois relataram aos senadores que, ao apresentarem as provas das irregularidades ao presidente, ele teria soltado um palavrão e dito que isso era “coisa do Ricardo Barros”, numa referência ao líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Bolsonaro teria dito a eles que levaria as informações para a direção-geral da Polícia Federal. Eles saíram do encontro achando que seriam tomadas providências. Bolsonaro não encaminhou o caso à PF e as pressões continuaram.
Luis Ricardo se recusou a assinar o documento. Então, uma outra servidora, Regina Célia Silva Oliveira – foi indicada por Ricardo Barros -, autorizou a importação, que só não se realizou porque a Anvisa não deu o aval. Como não foram tomadas providências, o servidor informou ao Ministério Público Federal sobre as irregularidades. Seu depoimento ao MPF vazou e o escândalo da negociata da Covaxin veio à tona.
O contrato do governo com a empresa Precisa, intermediária no negócio, era de R$ 1,6 bilhão, recursos que foram empenhados antes mesmo da assinatura do contrato, que se deu em 25 de fevereiro. O dono da Precisa, Francisco Maximiano, é acusado de ter dado um calote de R$ 20 milhões em um contrato de 2017 de venda de medicamentos não entregues ao Ministério da Saúde na gestão de ninguém menos do que o deputado Ricardo Barros, provavelmente o operador do esquema do governo no Ministério da Saúde.