Coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Ponta Porã e também substituto na coordenadoria de Dourados, José Resina Fernandes Jr serviu ao órgão durante 42 anos. Aposentou-se, mas a soma de seus conhecimentos e seu perfil de agente público dos mais responsáveis e eficientes levaram o presidente nacional da Fundação, Marcelo Xavier, a convoca-lo para continuar colaborando com a política indigenista, sobretudo numa época em que o desafio da pandemia do Covid-19 criou demandas complexas ao serviço público.
Nesta entrevista exclusiva à FOLHA, Resina Jr afirma que a Funai tem uma política indigenista estruturada para cumprir seu papel de apoio e assistência aos povos originários e que dispõe dos mecanismos operacionais e orçamentários para intervenções de combate e prevenção à pandemia do coronavírus. Engenheiro Agrônomo, Administrador de Empresa, Mestre e Doutor em Desenvolvimento Local e Planificação Territorial, Resina Jr define: “Tenho muito respeito e admiração pelos indígenas. Sou defensor confesso e estudioso da cultura indígena”.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Pode resumir sua história na Funai?
JOSÉ RESINA – Ingressei na Funai em 1978 e após 42 anos de serviço resolvi aposentar-me. Mas não resisti ao convite do presidente do órgão, Dr. Marcelo Xavier, e do vice-presidente, Dr. Alcir Teixeira, para retornar ao trabalho. No período em que estava na ativa assumi a coordenação regional em Campo Grande por sete oportunidades, a regional em Amambai e a Coordenação Técnica Local de Bonito. Empreendi trabalhos técnicos em Mato Grosso do Sul, no Pará, Roraima, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. Fiquei feliz e honrado em contribuir para o atendimento às comunidades indígenas. Detenho muito respeito e admiração pelos indígenas e sou defensor confesso e estudioso da cultura indígena.
FCG – Fez alguma pesquisa envolvendo os povos indígenas?
JR – Sim. Em todas as qualificações que consegui realizar, a temática sempre foi a indígena, pois com isso espero contribuir para valorizar a cultura desses povos. No curso de Especialização em Ensino a Distância, meu trabalho de conclusão foi sobre a implantação de curso superior à distância na Terra Indígena Kadiwéu (Porto Murtinho) e na Terra Indígena Taunay/Ipegue (Aquidauana). No Mestrado em Educação pela Unesp fiz um estudo sobre a Escola Indígena Urbana Marçal de Souza, de Campo Grande. No Mestrado em Desenvolvimento Local e Planificação Territorial, a dissertação foi sobre o processo migratório do índio terena para os centros urbanos das cidades. Na tese de Doutorado houve um aprofundamento do estudo da dissertação de Mestrado. Fora isso, tive a satisfação de acompanhar alguns pesquisadores, como uma aluna indígena que fez um belíssimo trabalho do resgate linguístico dos Oafyé, de Brasilândia, sendo uma tese de Doutorado pela Universidade de Brasília-UNB.
FCG – A Funai está melhor hoje que em anos anteriores?
JR – Os atuais gestores têm uma capacidade incrível de trabalho, de honestidade e competência, além da defesa intransigente das comunidades indígenas e suas lideranças. O órgão tem carência de recursos humanos e financeiros, mesmo assim são empreendidos esforços para o melhor atendimento possível aos povos indígenas. Admiro e respeito estes gestores e suas habilidades, fatores determinantes para meu retorno ao órgão.
FCG – De que forma a Funai está atuando no Estado em relação à pandemia do Covid-19?
JR – O esforço e a dedicação da presidência do órgão são impressionantes. Tudo está sendo feito para garantir a assistência, o combate e a prevenção à doença. A Funai, por exemplo, entregou mais de 73.000 cestas de alimentos em todo o território nacional. Este balanço parcial inclui itens adquiridos com recursos próprios, doações e os provenientes de ações judiciais. O órgão conta com mais de R$ 20 milhões para ações protetivas no contexto da Covid-19. A distribuição das cestas é feita pelas 39 coordenações regionais no Brasil – três em Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Dourados e Ponta Porã), 240 Coordenações Técnicas Locais e 11 Frentes de Proteção Etnoambiental, para garantir a segurança alimentar nas aldeias.
FCG – De que forma são entregues as cestas e quais os cuidados para evitar a contaminação?
JR – A entrega é feita com o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), conforme os protocolos do Ministério da Saúde.
FCG – A Funai teve que adotar medidas rígidas para preservar os indígenas contra a pandemia?
JR – Já. No dia 18 de março uma portaria assinada pelo presidente, Dr. Marcelo Xavier, suspendeu a autorização para acesso às terras indígenas. Hoje são realizadas barreiras sanitárias com a participação de lideranças indígenas, professores e membros das comunidades, com o intuito de impedir a entrada das pessoas nos territórios. Dentre outras ações destacam-se a distribuição de kits de proteção às unidades descentralizadas e o lançamento da Campanha Solidária, voltada para arrecadar doações nas coordenações regionais.
FCG – Há outras ações cogitadas para esse enfrentamento?
JR – Sim. Estarão sendo entregues em todo território nacional mais 310 mil cestas. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos destinou quase R$ 6 milhões à Fundação. A aquisição está sendo realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento.