Entre os objetos que José Rosa, 45 anos, afirma que precisa jogar fora estão dois talões de cheques. “A última vez que usei cheque foi há oito anos”, estimou o mototaxista, em menção a uma forma de pagamento cada vez mais em desuso. Em 2017, a queda foi recorde: a quantidade e o valor das transações com cheques em Mato Grosso do Sul foram os menores dos últimos 20 anos.
Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a dezembro do ano passado, foram trocados 6,73 milhões de cheques em todo o Estado com movimentação correspondente a R$ 11,97 bilhões. O volume de documentos vem caindo ininterruptamente há sete anos e recuou, em 2017, para a menor marca desde 1997, quando teve início a série histórica do levantamento. Nesse período, a retração foi de 78%.
A trajetória dos valores apresenta oscilação mais acentuada que a do volume de cheques. Entretanto, com a diminuição expressiva no número de lâminas em 2017, o valor das transações também foi, nesse ano, o menor da série histórica. Até então, a cifra mais modesta havia sido a de 2006, com R$ 13,16 bilhões.
Em um ano, de 2016 a 2017, as variações na quantidade e nos valores dos cheques movimentados em Mato Grosso do Sul foram, respectivamente, de -16,63% e de -13,31%. Em 2016, foram trocados 8,082 milhões de cheques no valor de R$ 13,81 bilhões. Nesse intervalo, as reduções, em termos absolutos, foram de 1,34 milhão de lâminas e de R$ 1,83 bilhão.
CONSUMIDORES
Essas estatísticas se manifestam no comportamento de consumo dos campo-grandenses, que veem no cheque um artigo do passado. “Saiu da moda. Hoje, raramente o comércio aceita”, observa o mototaxista José Rosa, que usou cheque, pela última vez, há oito anos na compra parcelada de material de construção. Como “recordação” desse tempo há dois talões com data vencida. “Esqueço de destruir e jogar fora”, diz.
A menor transação com cheques também reflete a redução do poder de compra dos consumidores. “Já não uso mais nem cheque e diminuí os cartões, porque o dinheiro ficou escasso. Tenho só um cartão pra fazer compra em supermercado”, contou Jorge Mashar, 63 anos. Ele acrescenta que a última vez que assinou uma folha de cheque foi há sete anos.
Pipoqueiro há 40 anos na Praça Ary Coelho, Belarmino Pereira dos Santos, 73 anos, é mais radical. “Nunca usei cheque, não gosto de mexer com banco. Tudo que comprei na vida foi com dinheiro. Se o dinheiro dá, eu compro. Se não, não compro”, afirmou.