Uma das promessas mais contundentes feitas durante a campanha eleitoral que deu a Marquinhos Trad seu primeiro mandato de prefeito foi a de restaurar o Complexo Empresarial ‘Terminal do Oeste Heitor Eduardo Laburu’. A promessa, repetida várias vezes durante comícios, reuniões e programas de televisão em 2016, não foi cumprida até hoje. Já se passaram cinco anos e as palavras daquele candidato continuam soltas, ao sabor dos ventos, tal qual uma biruta de aeroporto.
A velha rodoviária era um dos cartões de visita de Campo Grande. Inaugurada em 1973 e ativa durante 37 anos, foi o mais importante núcleo de deslocamento popular no sistema de transporte coletivo, para as viagens locais, intermunicipais e interestaduais – um tanto de chegadas e partidas de gente que contribuiu decisivamente para o progresso da cidade, mas que também serviu como endereço de referência cultural e comercial, com lojas de várias modalidades e cinemas.
Nem a estrutura física e muito menos a sua importância histórica e cultural foram tratadas com o respeito e a atenção merecidas, depois que se ergueu uma nova rodoviária, na saída para São Paulo. O velho terminal, desde então, transforou-se numa espécie de “patinho feio” da Capital e, pior, refúgio dos deserdados da sorte, abrigando dependentes químicos, profissionais do sexo, desocupados e traficantes. É conhecida também como “Cracolândia”.
DETERIORAÇÃO
Física, social e urbanisticamente o terminal se deteriora a olhos vistos, sob a complacência do prefeito que prometeu restaurá-lo ou, pelo menos, encontrar um uso de interesse público à altura de sua dimensão. Os seres humanos no lado marginal da vida, com os quais ainda convivem os heroicos remanescentes da velha rodoviária, são desprezados pelo olhar frio e indiferente do poder público – na verdade, o olhar de um gestor que esconde de suas postagens publicitárias imagens incômodas como esta.
Coincidência ou não, quando foi desativada a velha rodoviária, o prefeito era Nelsinho Trad, hoje senador, irmão de Marquinhos. E na época ele havia manifestado a certeza de que um dia aquele equipamento urbano seria utilizado da melhor forma pelos administradores que o sucederiam. Hoje, depois de 11 anos, o sucessor está no segundo mandato e fixou-se na ambição de ser governador, esquecendo-se que primeiro terá de enfrentar e vencer uma disputa na qual será cobrado pela fuga da palavra empenhada. E certamente as promessas vazias estarão nesse “pacote” que integra o seu currículo.
Antes de Marquinhos, a cidade sofreu com quatro anos nas mãos de Alcides Bernal e Gilmar Olarte. Ambos empurraram com a barriga as possibilidades de fazer do antigo terminal um centro de manifestações e incentivo às artes e à cultura, um núcleo profissionalizante ou mesmo para sede de secretarias e órgãos públicos municipais. Aqueles quatro anos de desgoverno (2013-16) foram tão catastróficos que deram a munição para a vitória de Marquinhos Trad, alimentada pelas juras de amor ao patrimônio histórico da cidade.
ESPERANÇA ESVAZIADA
Comerciantes e empregados que trabalhavam na rodoviária entre os anos 1970 e 2010 renovaram a esperança de ver o ambiente restaurado com as promessas de Marquinhos. A esperança caiu no vazio, assim como no vazio estavam e estão as palavras do prefeito. Faltam apenas três anos para o fim de seu mandato – ou apenas quatro meses, se de fato for candidato ao governo e tendo que renunciar ao cargo até abril.
O velho e romântico Terminal Heitor Laburu, queiram ou não o prefeito e seus carregadores de andor, poderia ter melhor sorte se fosse prioridade em qualquer um dos “pacotes” de investimentos mobilizados nestes cinco anos. Ou estar presente no topo das intervenções de resgate patrimonial e histórico se fosse lembrada quando o atual prefeito decidiu destinar R$ 60 milhões da receita municipal para publicidade e promoção de sua imagem, conforme denúncia do vereador Marcos Tabosa (PDT).
Os próprios comerciantes, os antigos e os recentes, se mobilizaram várias vezes em defesa do espaço. Numa delas, programaram um mutirão para fazer sua revitalização, apoiados por movimentos sociais. Até verbas de emendas parlamentares foram canalizadas e uma das expectativas que foram criadas dava conta de início das obras de revitalização este ano. Mas nada disso aconteceu nesta cidade em que cumprir a palavra nem sempre é uma questão definitiva.