Ciente de que se elegeu na expectativa maior de ser inflexível no combate à corrupção e não dar trégua aos corruptos, o deputado federal e capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL) sabe que não poderá dar-se ao direito de cometer erros que possam nivelá-lo aos antecessores, em especial os ligados ao PT e à esquerda. Por isso, logo após o segundo turno ele passou a trabalhar com os seus principais auxiliares o processo de consultas e avaliações para montar o governo.
Os resultados dessas escolhas ainda geram controvérsias. Porém, antes mesmo de assumir, Bolsonaro já demonstrou que pretende fazer um governo de absoluta autoridade, de presença forte e impactante, com acentuado viés conceitual no combate à ideologização política. E dessa forma, em repetidas vezes, ao anunciar seus ministros ou comunicar sua agenda à imprensa, faz questão de deixar bem sublinhado que não abrirá mão da própria autoridade.
Ao fazer o convite a cada ministro ou membro dos demais escalões, Bolsonaro estabelece um pacto radical e pessoal. Desenha como quer que cada um atue, incorporando no conceito e na prática seu compromisso em cumprir as promessas de campanha. As diretrizes primordiais incluem a montagem de um severo sistema de controle interno nas ações de governo, cobrança periódica de desempenhos e dos resultados da equipe e das metas, elevação dos princípios de responsabilidade e probidade administrativa ao mais alto grau.
Não ao acaso, mas porque aposta na credibilidade e na autoridade das Forças Armadas, o presidente vem escalando personagens de proa da galeria militar do País. Generais e oficiais de alta patente já estão integrando o staff do presidente. Também selecionou políticos de trânsito liberado e comprovada capacidade, além de buscar nomes que apontam saídas concretas para as demandas da retomada do crescimento e da superação dos fenômenos recessivos.
Para começar com um bom começo, Bolsonaro definiu alguns nomes de impacto em sua equipe. Sem dúvida, o mais comentado é o do juiz Sérgio Moro, responsável pela condução dos inquéritos e julgamentos da Lava Jato. Ele vai comandar um superministério da Justiça tendo como incumbência maior criar mecanismos implacáveis para combater e prevenir a corrupção. Também integram a lista de celebridades nesse time o astronauta Marcos Pontes, o primeiro astronauta da América Latina a realizar viagem espacial, e o economista Paulo Guedes. Na Pasta da Economia, que vai abrigar outros setores, ele terá a tarefa de chefiar um superministério, assim como Sérgio Moro.
Como novidade particular para os sul-mato-grossenses, Bolsonaro está fazendo com que pela primeira vez em sua história o Estado conte com dois representantes locais na base ministerial do Planalto, os deputados Luiz Henrique Mandetta e Tereza Cristina.
NOMES JÁ ANUNCIADOS
CASA CIVIL, ONYX LORENZONI
Deputado federal eleito para o quinto mandato, recebeu mais de 183 mil votos neste ano, o segundo mais votado do Rio Grande do Sul. Aos 64 anos, é médico veterinário e sócio de um hospital veterinário em Porto Alegre. Apesar de o DEM não pertencer à aliança de Bolsonaro, Onyx apoiou o capitão desde o início da campanha e foi escolhido como ministro extraordinário da transição.
ECONOMIA, PAULO GUEDES
Coordenador do plano econômico, é chamado de Posto Ipiranga pelo presidente eleito, em referência a um comercial de TV que aponta o estabelecimento como resposta para todas as demandas. Terá um superministério agrupando à Economia a Fazenda, o Planejamento e o Programa de Parceria de Investimentos. Tem 69 anos e é um dos fundadores do Banco Pactual e do grupo BR Investimentos, hoje parte da Bozano Investimentos.
EDUCAÇÃO, MOZART NEVES RAMOS
Seu nome seria confirmado na quinta-feira passada. A escolha aconteceu após a aproximação de Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, ao grupo de Bolsonaro. É um dos nomes mais conhecidos da educação no País. É diretor do Instituto Ayrton Senna, foi o primeiro presidente-executivo do Programa “Todos pela Educação” e secretário de Educação de Pernambuco. Formado em Química, foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA, SÉRGIO MORO
É magistrado, escritor e professor universitário. Graduado em Direito, tem mestrado e doutorado. É juiz federal desde 1996. Ganhou fama ao liderar os julgamentos da Operação Lava-Jato. Condenou importantes personagens do mundo político e empresarial, entre os quais o ex-presidente Lula. Vai chefiar um superministério, o da Justiça, agregando a Segurança, Transparência, Controladoria-Geral da União e o Conselho das Atividades Financeiras (Coaf), hoje ligado ao Ministério da Fazenda.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA, MARCOS PONTES
Primeiro sul-americano a ir para o espaço, é um dos militares do primeiro escalão. Ex-piloto de caça, é mestre em engenharia de sistemas. Em 2014, candidatou-se a deputado estadual em São Paulo, mas não se elegeu. Filiado ao PSL.
GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL, AUGUSTO HELENO
General quatro estrelas, a mais alta graduação do Exército, Augusto Heleno Ribeiro Pereira tem 70 anos e está na reserva após 44 anos nas Forças Armadas. Filiado ao PRP, chegou a ser cogitado para vice, ideia rechaçada por seu partido, o que o fez pedir desfiliação da sigla. Foi chefe do Comando Militar da Amazônia de 2007 e 2009.
DEFESA, FERNANDO AZEVEDO E SILVA
General de Exército, ex-chefe do Estado Maior. Foi indicado pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, como assessor do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Tofolli.
RELAÇÕES EXTERIORES, ERNESTO HENRIQUE FRAGA ARAÚJO
Dirigia o Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos na gestão do chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Durante a campanha, causou polêmica com um blog no qual fazia campanha ostensiva para Bolsonaro.
AGRICULTURA, TEREZA CRISTINA CORRÊA DA COSTA
A primeira mulher escolhida para o alto escalão palaciano tem 64 anos, é engenheira agrônoma e produtora de soja em Mato Grosso do Sul. Foi secretária estadual de Produção e está no segundo mandato de deputada federal. Uma das mais atuantes lideranças da bancada ruralista, preside a Frente Parlamentar da Agropecuária.
SAÚDE, LUIZ HENRIQUE MANDETTA
Médico e ex-secretário de Saúde de Campo Grande, está filiado ao DEM e está no segundo mandato de deputado federal. Por opção, deixou de disputar as eleições deste ano. Além da admiração e da confiança de Bolsonaro, teve importantes políticos de direita defendendo sua escolha. Um dos “padrinhos” é o atual senador e governador eleito Ronaldo Caiado, de Goiás, que também é médico e é dirigente do DEM.