Se não acontecer uma extraordinária surpresa, daquelas de fazer história, o capitão da reserva do Exército e deputado federal desde 1991, Jair Bolsonaro (PSL), deve ser confirmado pelas urnas no próximo domingo, 28, presidente da República. É este o retrato que antecipam todas as pesquisas já realizadas sobre as intenções de voto no segundo turno, com índices de larga vantagem de Bolsonaro sobre o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).
Na segunda-feira, 15, o Ibope divulgou o resultado da primeira pesquisa sobre o segundo turno. Realizado nos dias 13 e 14, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, o levantamento revelou que nos votos válidos Bolsonaro bate Haddad por 59% a 41%, uma diferença de 18 pontos. Já nos votos totais, que englobam os brancos e nulos (9%) e os indecisos (2%), o placar é de 52% a 37%.
O MITO
Bolsonaro terminou o primeiro turno com 46% contra 29,2% do adversário. Já no dia seguinte era possível ver os rumos que seguiriam. Procuraram afastar ideias de que, se eleitos, tomariam medidas contra a Constituição. Recuaram de declarações e de intenções de convocar Assembleias Constituintes para fazer alterações na lei máxima do país, que está contemplando 30 anos em vigor.
Ainda em recuperação do ataque a faca que sofreu em setembro, Bolsonaro vinha aparecendo pouco em público. Depois passou a fazer transmissões ao vivo no Facebook e retomou as entrevistas, porém sem atender convites para debates na TV. Vem reforçando os ataques ao PT e prega maior rigor no combate à corrupção e à criminalidade.
No primeiro, associa a imagem de Haddad à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba; atribui ao PT a responsabilidade pela crise econômica e voltou a se referir a Haddad como “pai do kit gay” — termo pejorativo usado para se referir ao projeto ‘Escola Sem Homofobia’ elaborado por organizações não governamentais em 2004, que não foi enviado às escolas, mas virou polêmica em 2011, quando o petista era ministro da Educação.
Quanto à segurança pública, o candidato repete as propostas de liberação do porte de armas, de penas mais severas a crimes violentos e implantação de ao menos uma escola comandada por militares por estado. Na gestão, repetiu que vai reduzir o número de ministérios e que pretende acabar com o “ativismo ambiental xiita” que, segundo ele sugeriu, é um entrave ao desenvolvimento econômico.
O candidato do PSL enfatiza suas declarações favoráveis ao Bolsa Família. Além de dizer que não acabará com o programa, Bolsonaro prometeu ampliá-lo concedendo o “13º salário” aos beneficiários. Bolsonaro ainda tenta se desfazer das pechas de machista, racista e homofóbico. Ele se diz rotulado injustamente pela imprensa. Em manifestações nas redes sociais destacou que suas ações serão para “todas as pessoas”.
O PROFESSOR
Faltam somente sete dias para a eleição, mas Haddad ainda está no desafio de reverter a posição desfavorável nas pesquisas, em uma campanha marcada pelo antipetismo. Sua alta rejeição é vista como reflexo da crise pela qual passa seu partido desde o impeachment de Dilma Rousseff, da prisão de Lula e da recessão econômica. No primeiro turno, a figura do ex-presidente (que era o oficial candidato e liderava as pesquisas) era usada para transferir seus votos a Haddad. O ex-prefeito assumiu a candidatura em 11 de setembro, após Lula ser barrado pela Lei da Ficha Limpa.
Haddad tenta vencer resistências ao seu nome, se aproximando, por exemplo, do setor religioso, parte dele simpatizante a Bolsonaro. Fez intervenções estratégicas, como a visita a Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo que relatou o julgamento do mensalão. Barbosa, filiado ao PSB, apoia oficialmente o petista no 2º turno. O ex-ministro cogitou disputar a presidência, mas depois desistiu. Haddad também realçou o interesse em, se vencer a disputa, levar para o governo o filósofo, escritor e educador Mário Sérgio Cortella, sugerindo-lhe aceitar o convite para comandar o Ministério da Educação.
O apelo à democracia é um dos pontos que Haddad usa para atacar Bolsonaro, num contraponto ao figurino militarista ostentado pelo adversário, que tem reiterado seu respeito à democracia, embora faça exaltações à ditadura militar. Também dá destaque às políticas de inclusão social priorizadas pelos governos do PT e pontuando as diferenças com as concepções econômicas de mercado e privatistas. Nesta frente, a estratégia do petista é associar as propostas econômicas de Bolsonaro às medidas do governo Michel Temer, o mais impopular da história.
Além de reduzir as menções ao ex-presidente, Haddad alterou a identidade visual de sua campanha. O vermelho, cor do PT, perdeu o destaque nas fotos e materiais que identificam a candidatura, que agora estampam as cores verde, amarelo e azul. A foto de Lula, bem como o slogan “Haddad é Lula”, também não aparecem mais. Para completar, ele reafirma compromissos históricos da esquerda com as pautas inclusivas e afirmativas – mulheres, negros, LGBTs, índios e minorias –, com discursos contundentes contra o ódio e a violência.