Com programas, investimentos e ações pontuais o governo de Mato Grosso do Sul vem criando várias alternativas de diversificação econômica e fomentando a cadeia do agronegócio e da agroindústria. Um dos segmentos contemplados com especial atenção é o da agricultura familiar, alvo de um direcionamento gerencial estratégico para a economia, de acordo com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Ele mesmo, um grande produtor rural, reconhece que a agricultura familiar é o principal esteio do processo de abastecimento interno e da melhor e mais segura forma de inclusão social e econômica no Brasil.
É nesse contexto que Azambuja criou um leque de ações de fomento, como fez na terça-feira, 14, ao entregar 23 resfriadores de leite para produtores de 23 municípios. O resfriamento do leite acrescenta itens diferenciados no custo-benefício do sistema de produção e comercialização: redução de custos com energia e transporte, poder de negociação entre produtores e laticínio; sabor mais agradável e, ainda, reduz bastante os pontos de desclassificação por acidez, o que propicia ganhos no volume.
Foram investidos R$ 448 mil 850,00 nos equipamentos em dois convênios entre o Estado, via Agência Estadual de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Caixa Econômica Federal. O primeiro convênio, de R$ 141,3 mil, garantiu a compra de 11 resfriadores, com capacidade para mil litros de leite; com o segundo, de R$ 307,5 mil, foram adquiridas 15 unidades, que armazenam até dois mil litros de leite.
SATISFAÇÃO
Integrante de um grupo de quatro agricultores familiares, Roberto Rocha, da Colônia Paredes, a 20 km de Rio Verde, comemorou, ao revelar que o equipamento chegou no momento em que o único resfriador próprio teve perda total recentemente e o conserto ficaria caro demais. “O nosso teve sua câmara fria estourada e arrumar não compensa. Arrumamos outro resfriador, mas é emprestado pelo laticínio. Agora estamos aliviados. Além de não colocarmos a mão no bolso, pegamos um com capacidade de mil litros”, exultava, ao agradecer a Azambuja e ao então diretor-presidente da agraer, Enelvo Felini.
Vander Manoel Ferreira, do Centro Rural de Arapuã, distrito a 40 km de Três Lagoas, não economizou satisfação: “Há três meses a gente tem um resfriador também doado pela Agraer. É usado, mas já vai dar uma ajuda e tanto. Com a política atual de preços, o leite vendido por R$ 0,75 aos laticínios, sem resfriador a gente fica com medo de investir e não ter retorno. Com mais um resfriador é diferente, podemos atender mais produtores, armazenar por mais tempo e negociar o valor”, raciocina.
SONHO REALIZADO
Com capacidade para armazenar dois mil litros de leite, o novo resfriador não só ajudará na autonomia dos produtores como vem para materializar um sonho. Os 23 municípios contemplados agora são: Nova Andradina, Anaurilândia, Selvíria, Brasilândia, Glória de Dourados, Ivinhema, Naviraí, Nioaque, Paranaíba, Rio Verde, Santa Rita do Pardo, Alcinopólis, Angélica, Bataguassu, Camapuã, Cassilândia, Deodápolis, Figueirão, Juti, Mundo Novo, Paranhos, Três Lagoas e Chapadão do Sul.
Outros resfriadores serão adquiridos pelo governo para atender mais famílias. Parte dos recursos já está em caixa, segundo Enelvo Felini. “Graças aos esforços da equipe sobraram R$ 70 mil. Dá para comprar outros quatro ou cinco equipamentos”, calcula. Ele diz que só se faz uma cadeia produtiva do leite se houver uma atividade eficiente no setor, com produtor forte, um mercado consumidor favorável e laticínios em operação. “Hoje, temos 20 laticínios de portas fechadas e isso reflete na atividade em todo o Estado”, completa.
DOIS TERÇOS
Em Mato Grosso do Sul, dados oficiais indicam que 60% dos estabelecimentos rurais exploram a pecuária leiteira. Nas propriedades oriundas da reforma agrária o índice é superior a 80%. Mais do que garantir a qualidade, o desafio dentro da cadeia produtiva do leite é promover a continuidade na produção. O baixo volume da produção diária obtida nas pequenas propriedades às vezes inviabiliza a remessa diária aos laticínios quando não há uma linha regular de coleta de leite.
“A gente vê um equipamento, mas não visualiza sua importância para estruturar a cadeia produtiva. Quando se fala em resfriador se está falando de qualidade do leite, da possibilidade de juntar volume, de definir linhas de captação. Então, a gente está falando em melhoria de renda do produtor”, enfatizou o titular da Semagro, Jaime Verruck. Nas propriedades enquadradas como agricultura familiar, a atividade leiteira tem um papel importantíssimo na ocupação das pessoas, daí a necessidade de investimento em tecnologia e insumos agrícolas.