Um grande desafio atual é garantir a sustentabilidade do crescimento das cidades, conciliando o desenvolvimento econômico e social com o processo de urbanização, sendo o saneamento básico decisivo para garantir saúde às famílias. Na manhã desta segunda-feira (25), o assunto foi discutido no auditório do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Campo Grande, durante a audiência pública Saneamento: Um Direito de Todos, proposta pelos deputados Junior Mochi (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa, e Pedro Kemp (PT), em parceria com a Câmara Municipal de Campo Grande, a Arquidiocese de Campo Grande e a Comissão Regional de Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A igreja sediou os debates, alinhados com a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, que traz como tema Casa comum, nossa responsabilidade, despertando a reflexão cidadã com relação à preservação ambiental. Para o presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi, a reunião de especialistas na área do saneamento, agentes políticos e lideranças religiosas proporciona decisões mais assertivas. “A união faz a força. Neste caso, Legislativo Estadual e Câmara dos Vereadores somam forças, uma fez que a concessão do serviço de saneamento é de responsabilidade do município”.
Para ele, o envolvimento da igreja e segmentos que abrangem a questão dará contribuição significativa para os tão desejados resultados positivos. “Os resultados aqui obtidos não serão em vão e, se hoje, programas de grande porte contemplam investimentos, foi exatamente a mobilização da sociedade quem impôs. E, mesmo assim, ainda estamos longe de índices minimamente civilizados”, alertou. Mochi lembrou que, enquanto 96% da água que chega às casas dos campo-grandenses é potável, a mesma eficiência não é verificada nas obras de esgoto e na gestão dos resíduos sólidos.
De acordo com Pedro Kemp, o debate também fomenta novas políticas públicas para garantir serviços essenciais. “O saneamento é um recurso básico e um serviço essencial à vida, à saúde e ao meio ambiente. Profundas reformulações sociais, econômicas e políticas são necessárias para alcançarmos a sociedade que pretendemos e queremos ser. Acredito que a consciência em diminuir o consumismo é uma das formas de contribuirmos com a casa comum”, analisou, lembrando que o lixo, resultante de diversos tipos de embalagens descartadas, também deve ter destinação sustentável. Ele enfatizou que cabe ao Poder Público adotar medidas, mas a população precisa rever condutas no dia a dia.
As igrejas cristãs pretendem contribuir para a reflexão crítica dos modelos de desenvolvimento que têm orientado a política e a economia. “Acreditamos que a fé sem obras é morta. A Campanha da Fraternidade é uma forma de viver a Quaresma. Nossa intenção é refletir como estão estruturadas as nossas cidades e quem realmente tem acesso ao saneamento básico”, explicou Dom Dimas Lara Barbosa, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande. Para a 1ª secretária da Comissão Regional de Justiça e Paz, Margarida Cavalheiro, o atual sistema está ameaçando a vida e o sustento de muitas pessoas, em especial das famílias mais pobres. “A falta de saneamento básico tem atingido principalmente o desfavorecido, nossos irmãos da periferia. Muitas doenças estão se alastrando em decorrência da falta de saneamento”, disse a representante da CNBB.
Segundo a defensora pública Olga Lemos Cardoso de Marco, o órgão recebe frequentemente denúncias de precárias condições de saneamento básico e de seus impactos ambientais, em especial nos bairros da periferia. “A falta de saneamento fere o menos favorecido. Dados apontam que apenas 24% da população possui acesso a este serviço essencial. Alguns loteamentos que estão sendo abertos não possuem qualquer estrutura de esgoto. O cidadão está sem banheiro, fazendo as necessidades pessoais nos terrenos baldios. Há também a questão ambiental e social que envolve o lixão de Campo Grande. A coleta diária é de aproximadamente 750 toneladas de lixo residencial e domiciliar. Após o fechamento do aterro, foram desamparadas 400 famílias sustentadas com o material reciclado tirado do lixo”, reforçou Olga. Para ela, resolver a destinação dos resíduos sólidos, com a correta destinação dos recicláveis, é ação urgente, considerando que atualmente todo o lixo de Campo Grande é enterrado. “Com o passar do tempo, teremos o lençol freático prejudicado”, disse.
As sugestões apresentadas durante a audiência pública serão reunidas em uma carta-compromisso, a ser elaborada pela CNBB e entregue aos gestores públicos. “Também vamos pedir a assinatura dos candidatos a prefeito de Campo Grande, para que se comprometam ou justifiquem, caso não assinem”, informou Dom Dimas. (Assessoria)