Fazer a cobertura das agendas do presidente Jair Bolsonaro ou entrar na fila para entrevistá-lo são tarefas de risco para profissionais da imprensa, sobretudo se forem mulheres ou de veículos que o mandatário considera inimigos. Contam-se às dezenas as vezes em que o presidente maltratou com palavras depreciativas, gestos ou ironias vulgares as pessoas designadas para acompanhá-lo como uma atividade de cobertura jornalística.
Esse comportamento hostil, muito próximo da agressão física, repete-se a cada dia. Nesta segunda-feira (21), em Guaratinguetá (SP), Bolsonaro se irritou com a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo. Alterado, mandou a jornalista “calar a boca” ao ser indagado porque não usa a máscara. “Você quer botar… Me bota agora…Vai botar agora… Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora? Você está feliz agora? Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa”, bradou.
Depois, mais agressões, impedindo outra pergunta da repórter: “Cala a boca. Vocês são canalhas. Fazem um jornalismo canalha, vocês fazem. Canalha! Vocês não ajudam em nada! Vocês destroem a família brasileira! Destroem a religião brasileira! Vocês não prestam! A Rede Globo não presta!”. Em dezembro do ano passado Bolsonaro firmou-se como o presidente que mais atacou jornalistas, com 175 casos, ou 40,89% do total, incluindo discursos de desqualificação da imprensa (145 casos) e agressão verbal (26 casos). Os dados são da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro atacou a jornalista Patrícia Campos Mello, da ‘Folha de São Paulo’, com insinuação grosseira, de cunho sexual, sobre o trabalho da profissional: “Ela queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse, aos risos na saída do Palácio da Alvorada. No mesmo ano, em agosto, um dia depois de ameaçar um repórter de agressão em Brasília, o presidente voltou a ofender profissionais de imprensa, em um evento no Palácio do Planalto, voltado para médicos que receitam hidroxicloroquina para pacientes com Covid. Disse que jornalista ‘bundão’ tem menos chance de sobreviver ao coronavírus do que ele.
No último dia 2, Bolsonaro deu mais uma declaração polêmica contra a imprensa, tendo no alvo a âncora do canal jornalístico CNN Brasil, Daniela Lima. Ele conversava com apoiadores e alguém perguntou se algum âncora de telejornal daria a notícia de que o Brasil “infelizmente” cresceu no PIB. O presidente então respondeu com uma ofensa à jornalista da CNN: “É uma quadrúpede. Afinal de contas, acho que não preciso dizer de quem ela foi eleitora no passado, né? De outra do mesmo gênero”.