Em Campo Grande, no Parque dos Poderes, o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) é um dos mais importantes e resolutivos do gênero no Brasil. E agora a natureza terá outra razão para agradecer, com a decisão do governador Reinaldo Azambuja (PSDB) de garantir uma nova clínica, mais ampla e melhor estruturada para o tratamento e a recuperação das espécies que habitam os ecossistemas sul-mato-grossenses.
A obra terá um arrojado projeto de engenharia. Vai custar R$ 3,8 milhões e não tem similar em comparação com estruturas equivalentes no País. Azambuja e o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, autorizaram na última quarta-feira (15) a execução do projeto. A unidade terá 1.153,33 metros quadrados de área construída, com prazo de 540 dias para conclusão.
Para Azambuja, o investimento é uma das condições fundamentais das políticas públicas de sustentabilidade que servem de diretriz para as intervenções governamentais em todas as áreas, da infraestrutura à inclusão social. O governador disse que a agenda ambiental é prioridade e questão de honra na estratégia de gestão. Além disso, chama a atenção para o atendimento a uma das demandas mais recorrentes do movimento social e dos ambientalistas.
“Está sendo coroada uma luta antiga. A nova clínica terá uma estrutura das mais adequadas para o trabalho de recuperação dos animais silvestres”, acentuou. “Além de ampliar o espaço, haverá melhores condições científicas e operacionais de trabalho para os profissionais que atuam no Cras. E também há o ganho importante de agregação de outros valores, como a qualificação das condições laborais dos servidores e a abertura de novas possibilidades para parcerias”.
O aprendizado e as experiências acadêmicas e científicas também terão espaço com o empreendimento, já que o centro poderá funcionar como escola-residência para cursos de Veterinária e Biologia, entre outros, e formar a mão de obra especializada que é sempre necessária em estados com rica diversidade na fauna.
PIONEIRISMO
“O Cras é pioneiro no mundo em procedimentos avançados no tratamento para a recuperação e a cura dos animais”, disse Verruck. Como exemplo, ele citou o bem-sucedido implante de bico em uma arara Canindé. Realizada em março deste ano, a intervenção repercutiu amplamente nos meios científicos internacionais. No Cras, recentemente, também foi produzida e aplicada em um mutum – ave comum do Cerrado e Pantanal – uma prótese em impressora 3D. Pássaro de grande porte, o mutum – um dos animais em risco de extinção – havia sido vítima de atropelamento.
“O Cras desempenha serviço de excelência no atendimento aos animais vítimas de atropelamento, maus-tratos ou do tráfico. Com instalações amplas e devidamente equipadas, será possível ampliar os serviços e alcançar um índice ainda maior de reabilitação”, acredita Verruck. Atualmente, o Centro tem conseguido reabilitar cerca de 80% dos animais atendidos. A nova clínica contará com espaços administrativos, salas de cirurgia, novos ambientes para quarentena e laboratórios para exames.
EM NÚMEROS
Procedimentos mais complexos feitos em clínicas de universidades passarão a ser realizados no Cras. São exames de Raio-X e ultrassonografia em animais de grande porte ou cirurgias mais complexas. Mesmo sem as instalações adequadas, no ano passado foram registrados 555 procedimentos cirúrgicos, uma média de 11 cirurgias por semana, segundo o responsável técnico pelo órgão, o médico veterinário Lucas Cazati. Nesse período, o Cras recebeu 1.780 animais com ferimentos, vítimas do tráfico ou que estavam sendo criados em cativeiro, contrariando a lei.
O Cras foi criado em julho de 1987 e já acolheu mais de 41 mil animais de 300 espécies de aves, répteis e mamíferos. Desse total, 68% são aves, 20% mamíferos e 12% répteis. O percentual de animais ameaçados de extinção atendidos é de 4% em relação ao total de entradas. Quando chegam ao centro, passam por uma bateria de exames e em seguida recebem o atendimento médico e entram em quarentena.
Recuperados, são devolvidos à natureza. Caso não tenham mais condições de sobreviver em seus habitats, a equipe procura novo ambiente. Dos animais que deram entrada no ano passado, 855 foram transportados de forma voluntária por populares; 751 resgatados pela Polícia Militar Ambiental, 65 por fiscais do Ibama, 85 encaminhados por universidades e 24 pelas equipes da CCR Vias.