Com as graves denúncias e revelações que a CPI da Covid no Senado oferece ao País, e diante das pífias tentativas do Palácio do Planalto de apresentar vigorosos desmentidos, intensificam-se as onda favoráveis ao afastamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na semana passada o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), da base governista, recebeu um superpedido de impeachment, contendo 23 crimes de responsabilidade alinhados cronologicamente, desde sua posse.
O pedido é turbinado por uma bombástica denúncia que chegou à CPI, com a informação de que o governo Bolsonaro pretendia cobrar propina de um dólar por cada dose da vacina AstraZeneca aplicada no País. “As suspeitas de irregularidades nas negociações da vacina Covaxin – e a denúncia de suposta omissão do presidente ao ser avisado sobre o caso – deram fôlego ao discurso para tirar Bolsonaro do cargo”, analisaram os jornalistas Thiago Resende e Danielle Brant, na ‘Folha de São Paulo’.
No entanto, eles apontam que Lira ainda deve barrar os pedidos. Cerca de 120 pedidos de impeachment seriam reunidos em um só. Mas ainda faltam votos para que ele prospere na Câmara. “Apesar do ciclo de desgaste político do presidente e da baixa tração nas pesquisas eleitorais de 2022, o centrão permanece disposto a barrar a iniciativa de opositores ao governo. A fissura nessa aliança traz mais riscos para Bolsonaro no projeto de ser reeleito”, avaliam Resende e Brant. Uma denúncia-crime foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Messias Bolsonaro pelo crime de prevaricação.
“TEM QUE COMPOR”
Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, contou que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina para comprar vacinas. A proposta teria sido feita durante um jantar no Restaurante Vasto, no Brasília Shopping, na capital federal, no dia 25 de fevereiro.
O representante comercial deu detalhes: “Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: ‘Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo’. E eu falei: ‘Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?’”, contou Dominguetti.
O representante comercial explicou que o esquema proposto renderia uma propina bilionária: “Seria acrescentado 1 dólar no preço de cada dose. Segundo ele, esse US$ 1 por dose, em 200 milhões de doses, dariam de propina o que eles queriam, ou seja R$ 1 bilhão”. Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Só após o estouro do escândalo é que Dias foi exonerado.
A relação entre Bolsonaro e Barros parece muito forte. Em 18 de março, dois dias após se reunir com o deputado Luis Miranda (DEM), quando admitiu saber do esquema, o presidente recebeu Barros. A conversa foi das mais efusivas e afinou ainda mais a parceria. Tanto que no dia 6 de maio, depois de informado sobre a nebulosidade no contrato para compra da vacina indiana, Bolsonaro nomeou Cida Borghetti, mulher de Barros, para uma cadeira no Conselho de Administração de Itaipu. O salário mensal: R$ 27 mil, para comparecer a reuniões que acontecem de dois em dois meses.