No dia 1º deste mês, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) realizou por videoconferência o encontro anual sobre os principais desafios pela defesa de melhores condições de vida e no combate à violência e impactos diversos na vida das crianças. E quem atraiu a atenção do colegiado internacional não foi nenhum professor experiente ou autoridade reconhecida nesses ambientes por seus títulos, foi um índio de 15 anos, Roger Ferreira Alegre, da comunidade Amambaí, do povo Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul.
O adolescente fez, em espanhol, um discurso no painel sobre crianças e o meio ambiente. Destacou as razões pelas quais é importante proteger o território indígena, fez críticas ao governo Bolsonaro e falou dos impactos do coronavírus na sua comunidade. “O meio ambiente afeta diretamente os direitos de meninos e meninas. Para a infância indígena, a proteção do território é a forma de garantir nosso estilo de vida tradicional, sobrevivência, nosso desenvolvimento como ser humano e o exercício de todos os nossos direitos humanos”, assinalou.
DÍVIDA HISTÓRICA
Roger também salientou que “infelizmente, no contexto guarani, há uma dívida histórica por parte do governo do Brasil em demarcar nosso território”. E em seguida completou: “O governo [Bolsonaro] paralisou o processo de demarcações no país. Como consequência, vivemos em uma situação de insegurança, com riscos à saúde, à alimentação, à integridade física e mental”. Ele discursou representando o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O adolescente também denunciou a situação vivida pelos meninos e meninas indígenas, assim como as condições precárias enfrentadas por eles no dia-a-dia. “Nossas crianças sofrem com taxas elevadas de desnutrição. Somos mais de duas mil famílias, 60% crianças, sobrevivemos em barracas de lona sem acesso à água, saúde, educação, alimentação, em uma verdadeira crise humanitária”, afirmou.
Segundo ele, no ano passado 15 crianças entre seis e nove anos tomavam café na escola indígena na aldeia Guyraroká e foram cobertas por densa nuvem de agrotóxico. “Muitos dos nossos pais e familiares adultos foram contaminados trabalhando nas empresas frigoríficas da JBS”, acusou. Antes de dizer “muchas gracias” (obrigado), o adolescente afirmou que “a principal medida para proteger os direitos das crianças indígenas é garantir a demarcação dos nossos territórios”.