‘Diálogos do Ócio’, diz o autor Bosco Martins, é um inventário sobre quem achou no fazer nada a arte de reinventar a palavra
Residência, abrigo ou território onde o poeta viveu as últimas décadas de sua existência, na Rua Piratininga, é hoje a Casa Quintal Manoel de Barros. A denominação – fluída na inspiração de intelectuais, leitores, fãs e estudiosos – batiza o espaço temático e afetivo inaugurado em 2022 para ser um dos principais pontos de convergência da cultura sul-mato-grossense.
Neste ambiente, que preserva relíquias da intimidade e da rotina de um dos mais importantes pós-modernistas da poesia brasileira, foi lançado no domingo (17) o livro ‘Diálogos do Ócio’, do jornalista e poeta Bosco Martins, um dos poucos conviventes do dia-a-dia de Nequinho. A obra foi recebida com intensa e emocionada celebração pelas cerca de 400 pessoas que fizeram pequenino o ambiente pleno de prendas domésticas, ou futilidades inservíveis que inspiram, como dizia o poeta.
CELEBRAÇÃO A CARÁTER
Não seria diferente. O evento mexeu com o mundo artístico-cultural, social e político. Artistas – entre eles Celito e Geraldo Espíndola com suas canções -, autoridades (lá estava, entre outras, o secretário estadual de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Marcelo Miranda), dezenas de autores da faixa literária, como a poeta Raquel Naveira, músicos, pesquisadores, jornalistas, estudantes, políticos e centenas de anônimos leitores. Todos encantados e servidos de beleza e simplicidade com o texto vigoroso e intimista do autor de ‘Diálogos do Ócio’ e dos “cicerones” literários, José Hamilton Ribeiro, Sérgio Fernandes Martins e Douglas Diegues.
Leonardo Leite de Barros, sobrinho do poeta e herdeiro de Abílio Leite de Barros, acompanhou a cerimônia ao lado de outros familiares e relembrou o tempo em que morou na casa do poeta e se emocionou voltando ao local. O secretário Marcelo Miranda destacou a elevada importância da publicação “que veio afirmar com categoria o patrimônio literário do Estado e do Brasil”. Ele enfatizou: “Manoel de Barros colocou Mato Grosso do Sul no mapa da cultura brasileira e se tornou um patrimônio da Literatura. Trazer esta contribuição ao legado e memória desse grande poeta é de uma importância sem tamanho”.
Em 327 páginas o livro, segundo Bosco Martins, é um inventário de décadas de amizade que, finalmente, revela como ele vivia, criava e via o mundo à sua volta e, principalmente, como surgiu o estilo “barreano” e o abecedário “manoelês”. O lançamento chegou na abertura de uma semana diferenciada na literatura, quando se comemora os 107 anos de nascimento de Manoel de Barros. De segunda (18) a sexta-feira (22), o programa agendou a exibição de audiovisual, debates e atividades sobre literatura.
FAMÍLIA
Bisneta do poeta, Stelllinha Barros, 17, representou a família, ao lado da avó Maysa Leite de Barros, viúva de João Wenceslau de Barros e avó da bisneta e mãe de três netos do poeta, Manoel Wenceslau de Barros, Lucas e Joana de Barros. Joana, a mãe da bisneta e terceira geração da família, enviou de presente a Bosco Martins uma cesta de guloseimas da culinária mineira, que ela produz e revende.
Outro importante familiar presente no lançamento foi Leonardo Leite de Barros, sobrinho do poeta e herdeiro de Abílio Leite de Barros. Ele é idealizador da Bio Carnes, organic beef, uma das primeiras empresas do setor frigorífico a vender carne orgânica do Pantanal. Leonardo morou na casa do poeta e lembra do tio como uma pessoa atenta a tudo no ambiente: “Para tudo ele tinha uma boa história pra contar. E assim era o meu tio”.