A Ciência busca respostas para preservar a espécie Íconica
O pintado, um dos maiores peixes de água doce da América do Sul, enfrenta um futuro incerto. Apesar de ser uma espécie ameaçada de extinção, a pesca do pintado é permitida em vários estados brasileiros, incluindo Mato Grosso do Sul. Para entender melhor a situação da espécie e traçar estratégias de conservação, uma pesquisa inédita está sendo realizada em rios brasileiros. Os resultados dessa pesquisa poderão definir o futuro da pesca do pintado e a proteção da biodiversidade aquática.
Para saber como ele se distribui e se apresenta atualmente nos rios das Bacias do Paraguai e do Alto Paraná no Estado, além de outras no País, uma pesquisa é feita por especialistas na espécie. Ela foi encomendada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura e deverá ser entregue até 2025.
O biólogo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Três Lagoas, Fernando Carvalho coordena a análise dos peixes nos rios da Bacia do Paraná. Pescadores profissionais da Colônia Z-10, sediada em Fátima do Sul, ajudaram o trabalho d pesquisa fisgando 40 exemplares para a pesquisa nos últimos feriados de criação de Mato Grosso do Sul (11) e Nossa Senhora Aparecida (12).
Fernando explica que serão coletados materiais genéticos dos peixes em laboratório. Autorização do Imasul (Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) permite que 60 pintados, no total, sejam pescados para fins científicos nos rios Vacaria, Brilhante, Dourados e Ivinhema até 31 de outubro deste ano.
“O pintado tem realidades diferentes nas Bacias onde ocorre. O que se sabe a partir de pesquisas anteriores é que muitos exemplares da bacia do Rio Ivinhema, uma importante afluente do Rio Paraná em Mato Grosso do Sul, são híbridos””, afirma o professor.
Sobre o pintado híbrido, Fernando descreve que ele foi gerado por técnicas de psicultura e hoje pode representar “grande parte dessa população nos rios de Mato Grosso do Sul”. Por não ser de linhagem pura, “não seria passível de nenhuma lei de proteção”, acrescenta.
Os resultados da nova pesquisa vão embasar o plano de recuperação da espécie ameaçada no Brasil e podem contribuir com decisões sobre a exploração sustentável do pintado puro e do híbrido.
– A pesca do pintado é livre no Brasil com base em portaria do Ministério do Meio Ambiente que a garante enquanto corre paralelamente um plano de recuperação da espécie iniciado em 2023.
A permissão vai vencer em janeiro de 2025. Caso as pesquisas e o plano ainda não tenham terminado, é possível a prorrogação dos prazos.
O professor frisa que a principal ameaça à espécie não está relacionada à pesca profissional artesanal. “O que levou o pintado à categoria de espécie ameaçada foi principalmente a construção de usinas hidrelétricas nas bacias do Paraná e São Francisco, que transformou os rios de águas correntes em imensos reservatórios de águas lênticas”, fala.
Fernando explica que as usinas que geram energia elétrica acabam interferindo na reprodução da espécie. “É um peixe de corredeira que precisa de muitos quilômetros de trechos livres de rio para reprodução, normalmente precisa ser um ‘grande lago’. Com a correnteza gerada pelas hidrelétricas nos rios, ele perde orientação para se reproduzir”.
Multa e fiança
Ainda no feriado de 12 de outubro, pescador da colônia de Fátima do Sul acabou levado à delegacia junto a parte dos pintados pescados para a pesquisa científica, porque os exemplares tinham medidas diferentes das autorizadas para pesca da espécie em Mato Grosso do Sul e estavam sem as vísceras. Ele pagou fiança e foi liberado.
A Colônia Z-10 contestou a medida, já que uma resolução autoriza a captura de qualquer tamanho da espécie até o dia 31 e os pintados não seriam vendidos. O pescador acabou saindo no prejuízo.
A PMA (Polícia Militar Ambiental) respondeu que “a resolução que autoriza a captura e o transporte do pintado para pesquisa traz algumas condicionantes e, dentre as exigências que devem ser seguidas rigorosamente está a manutenção do pescado inteiro e com vísceras”, o que não foi atendido. Assim, a pesca acabou se enquadrando em crime ambiental e o homem terá que pagar multa.
E o dourado? – Espécie que atualmente está proibida de ser pescada nos rios de Mato Grosso do Sul é o dourado. A proibição começou a valer em 10 de janeiro de 2019 e foi prorrogada por nova lei até 31 de março de 2025.
A medida é questionada por ainda não ser embasada em estudo como o que está em andamento sobre o pintado.
Em julho deste ano, o Imasul publicou edital para selecionar instituição sem fins lucrativos para pesquisar a presença do dourado, mas apenas nos rios de Corumbá. A contratada vai receber até R$ 110 mil para isso. A previsão era que o resultado da seleção fosse divulgado até 29 de agosto.
O professor defende a ampliação do estudo. “É uma espécie muito presente nos rios da Bacia do Paraná também”, inclui.