Principal afluente do Pantanal registrou o nível mais baixo dos últimos 124 anos, segundo os dados do SGB (Serviço Geológico Brasileiro)
O Rio Paraguai está sumindo! Neste mês, o principal afluente do Pantanal registrou o pior nível de toda a história dos registros de medições, que começou em 1900. A crise climática, impulsionada pela ação humana, tem acelerado o processo de desaparecimento dia após dia.
O atual nível é de -68 cm, cenário nunca registrado, em Ladário (MS). Em Porto Murtinho (MS), próximo ao trecho em que o rio sai do território nacional, a cota também chegou ao valor mais baixo já observado (60 cm) e está 13 cm abaixo da marca mínima anterior, registrada há mais de 50 anos.
O fotógrafo Guilherme Giovanni fez registros que mostram o real cenário do Rio Paraguai. No leito, pedras e areia se acumulam. No vídeo também é possível ver carcaças de animais, lixos e até mesmo objetos que estavam escondidos há anos no fundo do rio.
Com o desaparecimento gradual do rio, pescadores têm andado por locais que estariam cobertos por água em anos passados. Segundo relatório do SGB, a última estação chuvosa no bioma – entre outubro de 2023 e setembro de 2024 – registrou um déficit gigante no acumulado de chuvas.
Neste período hidrológico, o déficit acumulado é de 395 mm de chuva. Foram registrados no total 702 mm, enquanto a média esperada seria de 1.097 mm. De 2020 a 2024, o déficit acumulado foi de aproximadamente 1.020 mm, valor equivalente ao total de um ano hidrológico. Ou seja, nos últimos cinco anos, é como se tivesse faltado um ano inteiro de chuvas no Pantanal.
O cenário catastrófico é resultado das chuvas abaixo do normal na região do Pantanal e pode se agravar.
“Com base no prognóstico e nas informações passadas, é provável que o nível do rio em Ladário continue baixo e, considerando os anos mais críticos, pode permanecer abaixo de 10 cm até a primeira quinzena de dezembro. Isso sugere que o rio pode descer ainda mais ou se manter nesse patamar crítico por algumas semanas”, indica o boletim do SGB.
Pior seca dos séculos
A principal bacia do Pantanal está desaparecendo. No começo deste mês, o Rio Paraguai, em Ladário (MS), chegou a -62 centímetros. Os dados negativos indicam a maior seca já registrada na história do bioma pantaneiro, na região de Mato Grosso do Sul. Os dados são do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), com base no banco de informações do Sistema HIDRO, mantido pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).
Diante da falta de água, a navegabilidade e a própria existência do Pantanal ficam comprometidas. O bioma existe devido à presença da água. Com a seca extrema, animais têm mudado seus fluxos migratórios e o solo tem se tornado cada vez mais árido.
Os transportes de ferro, soja e outros itens de exportação pela hidrovia estão comprometidos. Setores de pesca e turismo também sofrem com a seca. Além das perdas para o meio ambiente, a escassez do rio já afeta outros setores da sociedade. A ANA listou os problemas ocasionados pelo baixo nível:
- Impactos no uso da água, especialmente em captações para abastecimento, como em Cuiabá (MT) e Corumbá (MS);
- Impedimentos na navegação;
- Baixos aproveitamentos hidrelétricos a fio d’água (neles, as vazões que chegam são praticamente iguais às que saem dos reservatórios);
- Dificuldades para atividades de pesca, turismo e lazer