Vergonhosa a previsão da ANTT para obras que já poderiam ter evitado milhares de mortes
Preocupantes e sombrias projeções da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) causaram sobressalto e intensificaram a indignação da sociedade com a falta de providências que podem melhorar as condições de segurança na BR-163 em Mato Grosso do Sul. De acordo com o diretor-geral da agência, Rafael Vitale Rodrigues, a rodovia inteira será duplicada ao longo dos 30 anos do novo contrato de concessão.
O novo prazo para conclusão das obras é de 29 anos, a contar da assinatura do termo aditivo de repactuação, ou seja, o encerramento passará a ser em 2054. O contrato de concessão era previsto para 30 anos, mas foi repactuado para mais 15 anos. A repactuação estabelece que o contrato vai até 2059, sem a obrigação da duplicação dos 60% restantes da rodovia. A concessionária CCR prometeu que iria duplicar 75 km da rodovia nos três primeiros anos.
Embora o contrato inicial da CCR MSVia com o Governo Federal preveja a duplicação de apenas 203 km da BR-163 em Mato Grosso do Sul, Vitale Rodrigues afirmou que a rodovia inteira será duplicada ao longo dos 30 anos do novo contrato de concessão. A declaração foi dada antes de uma audiência pública na Federação das Indústrias (Fiems), em Campo Grande. O investimento total projetado é de R$ 9,3 bilhões ao longo dos 30 anos, com um compromisso da ANTT de garantir que os gargalos de fluxo e segurança sejam eliminados.
COBRANÇA INCISIVA
Parece que as previsões, avaliações e justificativas dos responsáveis desconsideram, solenemente, a quantidade de mortos e feridos acumulados ao longo da BR nas últimas décadas. O senador Nelsinho Trad (PSD) anunciou que lançaria mão de todos os procedimentos regimentais e atribuições políticas para cobrar investimentos em segurança e, ao mesmo tempo, a apuração das responsabilidades e punição dos responsáveis pelas tragédias que ceifaram vidas humanas e destruíram patrimônios.
Além das tragédias humanas e materiais, o senador aponta mais um impacto corrosivo causado pelas demandas da BR-163: o prejuízo no bolso das pessoas que a utilizam. O valor do pedágio passará dos atuais R$ 7,00 para R$ 15,00 a cada 100 km, depois das obras concluídas. O contrato será leiloado na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) no segundo semestre de 2025, após a publicação do edital, prevista para fevereiro e uma análise de 100 dias para empresas interessadas.
A BR-163 atravessa os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Pará. É uma das rodovias mais importantes do Brasil, com cerca de 3.470 km de extensão. É conhecida como “Estrada da Morte” ou “Rota do Agro”, em virtude da grande quantidade de acidentes e de sua serventia estratégica para o escoamento da produção agrícola.