A pesca esportiva no Pantanal de Corumbá se transformou em uma celebração pela sustentabilidade, onde a ordem é “pesque, solte e volte”
Quinta-feira, 26 de outubro, porto geral de Corumbá. A saída dos barcos-hotéis para a prática da pesca esportiva no Pantanal agita a orla, com as tripulações finalizando o receptivo aos turistas, que chegam na cidade de carro ou avião. Uma das embarcações receberá grupos de famílias, de diversas regiões do país, e as crianças na piscina, localizada no deck, animam o ambiente. A viagem de cinco dias promete ser divertida – e com muito peixe no anzol.
A pesca esportiva no Pantanal de Corumbá se transformou, nos últimos anos, em uma celebração pela sustentabilidade, onde a ordem é “pesque, solte e volte!”, frase estampada na camiseta dos guias de pesca (piloteiros). Cada vez mais, segundo os empresários do setor, os pacotes são fechados com grupos de amigos ou de famílias e o propósito do passeio é contemplar a natureza, sentir a emoção na fisga de um peixe (e devolve-lo ao rio) e usufruir do conforto e bom atendimento dos barcos-hotéis.
A Capital do Pantanal tem a melhor estrutura fluvial para a pesca esportiva, que ocorre de fevereiro a novembro. São 20 barcos-hotéis associados da ACERT (Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo), além de hotéis e pesqueiros. A qualidade dos serviços e a total segurança, com excelentes acomodações e a melhor comida pantaneira, são os diferenciais que atraem milhares de pescadores esportivos ao maior destino de pesca de Mato Grosso do Sul.
Segurança em primeiro lugar
Na saída da embarcação do porto-geral, o presidente da ACERT, Luiz Antônio Martins, dá o recado aos visitantes: “pessoal, vocês estão sendo privilegiados por estarem no Pantanal e desfrutar de um atendimento personalizado, desde o camareiro, ao pessoal da cozinha e os nossos piloteiros, os quais conhecem como ninguém cada meandro desse rio. A magia é da pescaria e não da pesca, a convivência entre amigos e famílias, nesse santuário ecológico”.
O comandante do barco-hotel, Erval de Carvalho, 55, apresenta a tripulação e os piloteiros e reforça a questão da segurança. “Não pescamos a noite, para proteção dos senhores e dos nossos colaboradores”, avisa. “O primeiro item de segurança, ao sair no bote, é o colete, que é obrigatório. Primamos por normas rigorosas de navegação e sistema de combate a incêndio”.
Nessa viagem, foram recrutados 30 piloteiros e 14 tripulantes, todos com a missão de melhor atender os turistas, inclusive com refeições fora do horário previamente determinado. Os piloteiros começam sua rotina às 4h da manhã, preparando os botes com abastecimento de bebidas, iscas e checagem dos bancos, tralha de pesca e dos motores de 40 HP. Muitos pescadores são madrugadores e saem para o rio às 5h, antes do sol nascer – um espetáculo à parte!
A gastronomia à base de peixe predominou no cardápio oferecido a bordo. Os turistas foram recepcionados no jantar do primeiro dia com um filé de pintado a moda urucum preparado pelos quatro cozinheiros da embarcação. Na sexta-feira, foi servido pacu frito e carneiro, e no sábado, carne de sol e carne de porco, no almoço, e pintado assado e file de pintado a moda da casa, no jantar. No domingo, churrasco embaixo das mangueiras, na barranca do rio, e massas (noite italiana), no restaurante do barco-hotel.
Pesca de dourado no Paraguai-Mirim
O barco-hotel saiu do Porto Geral de Corumbá no fim do dia e navegou a noite toda pelo Rio Paraguai acima (sentido Norte, em direção à Serra do Amolar), por 110 km, até a região conhecida como Campo Doria. No primeiro dia de pesca, os botes são retirados da parte superior da embarcação e alinhados no rio à espera dos pescadores esportivos. Marcelino Silva Valheco, 60, o Tico, é o chefe dos piloteiros e confere todos os itens de segurança antes de liberar a embarcação.
“O perfil do pescador esportivo mudou muito, está mais consciente e não comete abusos, confia na experiência dos guias na escolha dos melhores lugares para a pesca”, comenta Tico, há 42 anos na atividade. No segundo e terceiro dia de pesca, o barco-hotel atracou ao lado da comunidade do Paraguai-Mirim (130 km de Corumbá), afluente sinuoso e bom de peixe, com praias, muitos pássaros e água transparente para curtir e banhar-se na Baía do Cervo.
A região concentrou mais de uma dezena de barcos-hotéis a uma semana do encerramento da temporada de pesca, que foi farta no Paraguai-Mirim, predominando espécies como piau, piraputanga e o pacu. Samuel Vidal, 53, influencer na área de pesca e cozinha de Andradina (SP), fisgou um dourado de 3 kg em água rasa, algo raro. “É a primeira vez que venho ao Pantanal, estou impressionado com o ambiente familiar da pescaria”, avaliou.
O serviço oferecido pelos barcos-hotéis atrai pescadores como o mineiro de Passa Quatro Paulo de Luca, 66, médico. Ele e a esposa, Marizeli, 56, integraram o grupo que saiu dia 26 de outubro de Corumbá e elogiaram o roteiro. “Sou do tempo em que se levava muito peixe, mas reconheço que era uma pesca predatória e apoio integralmente o pesque e solte. É o mesmo prazer, o Pantanal nos renova e o atendimento do barco-hotel é maravilhoso”, comentou ele.