Já ensinava lá nos primórdios do século 20 o sábio, intelectual, jurista e economista alemão Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, que o agente político deve ter paixão por sua causa, ética em sua responsabilidade e mesura em suas atuações”. Nos dias atuais, a velha sabedoria é refletida em conclusões contemporâneas, como esta de Mário Pereira Gomes: “A má administração do dinheiro público e a corrupção gangrenam a sociedade brasileira”.
A cidade e o povo de Campo Grande acordaram muito abalados em seu novembro pós-eleitoral, sofrendo o doído golpe nos votos de confiança dados ao gestor que chegou ao poder jurando fazer aquilo que Max Weber preconizava na gestão publica: paixão pela causa, ética, responsabilidade e mesura. Exceto a paixão avassaladora pela causa – a do poder -, este gestor não cumpriu, aliás, ignorou, os demais predicados descritos pelo consciente e sábio intelectual germânico.
O motivo da dor e da decepção dos campograndenses está inscrito no relatório atualíssimo do Tesouro Nacional sobre Capacidade de Pagamento (Capag) dos municípios de Mato Grosso do Sul. Alegria: das 79 prefeituras, 69 receberam conclusões positivas de desempenho na gestão financeira. E tristeza: entre as 10 reprovadas está Campo Grande, exatamente a mais rica de todas, aquela que deveria ser o exemplo consagrador do custo-benefício na relação entre governante e governados.
É triste e revoltante, sobretudo porque os estudos feitos pelo Tesouro Nacional registram uma situação inédita desde 2016, quando foi criado este aferidor de gestão: é a primeira vez que o Estado atinge níveis tão altos de saúde fiscal (quase 70 municípios). Assim, a insolvência revela-se como a grande herança deixada pelo prefeito Marquinhos Trad para sua sucesssora, Adriane Lopes.
Durante cinco anos e três meses Marquinhos acumulou e escondeu os rombos financeiros. Pior que endividar a prefeitura, aplicar o calote, anular-se em obrigações contratuais ou violentar a capacidade de investimento foi lançar a tinta de negativações que maculariam a credibilidade do Município e poderiam torná-lo ingovernável em curto prazo. O prefeito – por impulso individualista ou de imaturidade – saiu para sua desastrada aventura eleitoral e deixou aquilo que seria uma mega-bomba de efeito retardado, pronta para explodir no colo da sucessora.
Felizmente, o pior não aconteceu. Foi evitado porque Campo Grande teve em sua cena imediata pós-Marquinhos dois atores que já tinham sido essenciais em outras ocasiões para desviar a capital dos abismos e reajustar o seu rumo, alinhando-o nos trilhos da retomada do progresso.
A prefeita e o governador Reinaldo Azambuja, em pronto e revitalizado entendimento entre Município e Estado, não permitiram que a cidade ficasse órfã, não a largaram no vácuo do desgoverno anterior, fizeram o presente seguir indo em frente na direção do futuro.
Enquanto os técnicos avaliam os estragos causados por despesas do desperdício, do clientelismo e dos calotes, definidos respostas eficazes e assegurando a governabilidade, Adriane e Azambuja afinam o diálogo e as parcerias se sucedem, gradual e produtivamente. Além de continuidade das obras iniciadas, outras frentes de serviços estão ajustadas, em especial para atender as áreas da segurança, saúde, educação, urbanismo, acessibilidade, mobilidade, trânsito e inclusão.
Campo Grande sofreu vários tombos em suas finanças. Mas não será necessário o esforço para levantar-se porque mesmo no prejuízo continuou de pé. É coisa de quem, com certeza, mais que a paixão pela causa age com ética, responsabilidade e reverência diante de princípios vitais para a boa gestão publica.
Tenho dito!