O escritor austríaco de origem judaica, Stepan Zweig foi um dos milhões de perseguidos pelo regime nazista. Teve inclusive seus livros proibidos e incinerados em praça pública. Foi o preço que pagou pelo combate sistemático ao avanço dos regimes nazifascistas. Não aguentando tanta perseguição, Zweig e sua esposa vieram para o Brasil em 1941.
Em pouco tempo ficou maravilhado com o país e escreveu um livro, “Brasil, país do futuro”. Morando na bela cidade serrana de Petrópolis-RJ, no ano de seguinte, deprimido pelo avanço do totalitarismo no mundo, Zweig e sua esposa suicidaram-se. Independentemente deste trágico desfecho, a ideia do “país do futuro” marcou gerações de brasileiros. Em síntese, era a ilusão de que se o presente estava bom, com certeza no futuro a situação iria melhorar.
O tempo passou e a busca por um Brasil melhor passou a ser a esperança de todos. Com certeza, o país deu um salto de modernização; significativa parcela da população transferiu-se do campo para a cidade; teve acesso às delícias da modernidade tecnológica, é verdade, a preço de altos juros e prestações a perder de vista. O país tornou-se uma potência, participando do jogo político internacional junto das nações mais ricas do planeta. Mesmo assim, permanece com uma das maiores desigualdades sociais que se tem notícia, mesmo com a espetacular política de assistencialismo, “nunca antes vista neste país”, com a distribuição de “bolsas”. No entanto, toda as ações assistencialistas e a propaganda em torno do governo não evitou a “quebradeira” que o nosso país está vivendo agora.
Com uma indecente carga de impostos e arrochos fiscais, parecia, no tempo do governo lulopetista, que estava sobrando muito dinheiro. Basta então reviver a política externa brasileira, como um irresponsável esbanjamento do dinheiro público, fazendo a delícia de países da África e América Latina com perigosa distribuição de incentivos financeiros e perdão de dívidas. Diversos países africanos receberam benevolências do Brasil, como a doação de 50 mil dólares para a Fundação para a Infância da República de Mali. Entretanto, foi a alegria de grandes empreiteiras, hoje enroladas na “Lava-Jato”, com a consequente prisão de seus dirigentes. A proposta da construção de uma hidrelétrica em Gana pela bagatela de 50 milhões de dólares é um exemplo, mas, até hoje não sei se a loucura foi concretizada. Sei que o governo brasileiro doou 50 mil dólares para atenuar as enchentes no Tadjiquistão e um bocado de feijão para Cuba. E as nossas enchentes? E as garantias de abastecimento interno, que é uma responsabilidade do Estado.
Em relação à América Latina, para citar alguns exemplos, basta ver a construção de uma hidrelétrica na divisa com a Venezuela, onde o finado presidente Chaves deu um baita “cano” nos cofres brasileiros, além da rasteira que Morales deu no governo brasileiro e na Petrobrás (uma mãe Joana para os gatunos). E as ambições do Paraguai sobre Itaipu? E o perdão das dívidas da Bolívia com o Brasil?
Lembrei-me de uma personagem norte-americana ingênua em um programa humorístico da TV, que tinha o bordão “como o brasileiro é bonzinho”. No governo Lula causou perplexidade a doação de 27 aeronaves, entre helicópteros e aviões, para a Bolívia, o Equador e o Paraguai. Devia estar mesmo sobrando dinheiro, pois o governo de então projetou gastar bilhões de dólares com novos e modernos aviões de caça, submarinos, sem esquecer dos projetos realizados de sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014, que resultou em gastança sem precedentes (e um histórico vexame da nossa seleção), e as Olimpíadas deste ano. O resultado disso tudo foi o aprofundamento da quebradeira do Estado que estamos vivenciando, claro, somado a muitos outros fatores.
Isso explica porque o Brasil ocupa uma vexatória posição no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. É a pobreza, a desigualdade e a baixa qualidade da vida da população brasileira que falam mais alto. Assim, a pretexto de atingir um fictício grau de “Brasil Potência”, muitos e graves problemas socioeconômicos foram relegados para baixo do tapete, tornando-se uma herança maldita para atual vida política e econômica brasileira.
Agora, como um soco no estomago, relembro uma pesquisa sobre a juventude brasileira, realizada pelo IBGE tempos atrás, mas que penso ainda válida. Esta amostra demonstrou que 63% dos jovens entre 18 a 24 anos deixam de concluir o ensino médio para trabalhar. Foi rastreado que mais de 800 mil jovens não trabalham e nem estudam (a famosa geração nem-nem), talvez por falta de oportunidade e levando em conta o altíssimo desemprego em todas as faixas etárias da nossa população.
Que futuro nos espera lá adiante? Como poderemos ter um país grande e desenvolvido em médio ou longo prazos?
Só por Deus!
Valmir Batista Correa, professor, historiador, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de MS