Os usuários de ônibus de Campo Grande conhecem os problemas mais comuns do transporte coletivo na ponta da língua: demoram muito para chegar, não passam no horário, não têm ar-condicionado, estão muito velhos, estragam com frequência. É fácil constatar que a percepção geral é de que a qualidade do transporte público está péssima.
O ex-prefeito Marquinhos Trad e a atual Adriane Lopes sabem disso. Mas como o sistema chegou nessa situação? O transporte público da Capital já foi um modelo a ser estudado para diversas outras cidades do Brasil, mas ao longo das últimas duas décadas, as iniciativas dos gestores foram ficando cada vez mais focadas em resolver problemas de trânsito de curto prazo, em contornar congestionamentos, e não em oferecer soluções sustentáveis para a área de mobilidade urbana. Destaca que este é um problema que antecede a atual gestão, mas cujos reflexos são sentidos atualmente.
E agora o vereador Junior Coringa quer reeditar um projeto de Lei na Câmara, já apresentado em 2003 pelo então parlamentar Alex do PT. Indignado, com a situação dos usuários, salutar, mas o problema não se resolve com Vans. Se enganou no entanto quando afirmou ser uma boa alternativa para o problema. Onde as vans entraram o problema do transporte não foi resolvido, em algumas cidades pelo contrário até pioraram.
O ponto mais crítico é a falta de um Plano de Mobilidade Urbana (PMU) que sirva de documento técnico normativo para nortear a política municipal para a área. A elaboração dele não é um mero desejo de urbanistas e especialistas em mobilidade. É uma exigência prevista na Política Nacional de Mobilidade Urbana para todas as cidades com mais de 20 mil habitantes.
Infelizmente está a cargo do Consórcio Guaicurus, previsto em contrato. Mas como vários pontos deste famigerado documento, ele não cumpre, e quem tem que fiscalizar não o faz. Aliás os diretores da Concessionária só aparecem para discutir aumento da passagem ou pedir dinheiro público para estancar seu prejuízos.
Os padrões de deslocamento da população mudaram, mas ninguém estudou nada. A Prefeitura não estudou, não sabe os padrões de origem e destino. Os graves problemas que estamos vivenciando nesse momento é porque não temos real consciência de quais são e quantificar esses padrões para poder ajustar.
Quem tem essa informação, em off, digamos, são as empresas que operam o sistema. Aí a Prefeitura muitas vezes é refém do que elas dizem, e eles dizem que essa linha tem que ser assim e assado, e simplesmente a Prefeitura tem que assinar embaixo.
O poder de planejamento, o poder de fiscalização e o poder de propor um novo modelo de gestão especificamente não estão partindo da Prefeitura. A prefeita Adriane Lopes, poderia tentar resolver essa questão, mas com os assessores do ex-prefeito Marquinhos Trad assoprando no seu ouvido, dificilmente teremos um resultado plausível. Até porque com esse mesmo time só foram feitas promessas, ou seja conversas ao vento. Esperamos que a prefeita se cerque de assessores competentes, especialistas, cada um em sua área, para que possamos ver Campo Grande crescer e sair desta inércia administrativa em que se encontra.
Tenho Dito!