Uma das abordagens conceituais mais enfáticas de Eduardo Riedel em sua trajetória pública – dirigente classista do ruralismo, secretário de Estado e governador – é o compromisso pessoal com uma condição vital para o Homem: desenvolvimento com sustentabilidade. Ambas podem ser elementos harmônicos de evolução, tanto social quanto econômica e culturalmente, raciocina o gestor.
Riedel imprimiu na estratégia de gestão de Reinaldo Azambuja um tipo de lacre identificador dos investimentos das políticas públicas, que é a convivência de recíprocas doações e benefícios entre as pessoas e a natureza. Isto, tanto nas economias urbanas como nas rurais, atividades primárias e industriais, nas quais o bem-estar de cada agente produtivo se associa à qualificação e à preservação dos ambientes de produção e de sustento da família.
Esta é a abordagem que precisa ser levantada vigorosamente no âmbito da polêmica e da discussão sobre a tragédia do povo Yanomami da Amazônia. As doenças e a fome, que massacram a existência desses povos originários, compõem a melodia fúnebre de uma licenciosidade econômica incentivada pelo governo federal ao desarticular as forças institucionais de controle e fiscalização e escancarar a região à sanha predadora de garimpeiros, desmatadores e quetais.
Infelizmente, faltou o olhar cuidadoso da sustentabilidade àquele governante que, durante os últimos quatro anos, passou ao largo das necessidades elementares de seres humanos relegados a planos inferiores de importância. Talvez porque os considerem, por suas raízes étnicas, peças exóticas, viventes desimportantes, que se arrastam no chão bruto e miserável da própria insignificância, sem nada a oferecer aos valentes e intimoratos agentes do agro e do empreendedorismo piratas.
Estarrece saber que, em cálculos superficiais, existam mais de 20 mil garimpeiros e outros tantos milhares de madeireiros, invasores da reserva indígena, atuando com a fúria de desmedidas ambições. Para ganhar dinheiro, muito dinheiro, e promover o “desenvolvimento” entre aspas, por meio de uma volúpia extrativista que contamina rios seculares com mercúrio e outras substâncias corrosivas, derrubam a vegetação primitiva e ainda estupram o povo nativo, incluídas crianças de 7, 8, 9 e 10 anos de idade.
Inicialmente, contabiliza-se que na Terra Yanomami ao menos 570 crianças morreram por contaminação com mercúrio, desnutrição e fome, devido ao impacto do garimpo ilegal nos últimos quatro anos. Nesse período, a garimpagem cresceu 46% na região.
Só a busca de ouro provocou a derrubada de 3.272 hectares desde 2018, quando começou o monitoramento oficial da área. A devastação da floresta não é tudo. O garimpo também atinge as cadeias alimentares, esgota as ofertas naturais, causa drástica redução na qualidade de vida e na saúde, resultando em mortes, milhares de mortes que poderiam muito bem ser evitadas.
Em Mato Grosso do Sul, o crescimento da economia, alavancada pela pujança do agronegócio e do ingresso da indústria, avança enquanto aumentam as populações indígenas em quase todas as comunidades. Um exemplo dos mais fortes é o povo guató, formado por índios ribeirinhos nômades, que habitam uma ilha a 350 km de Corumbá pelo Rio Paraguai e chegaram a ser considerados extintos nos anos 1980.
O que acontece com os yanomami na Amazônia é um crime. E os criminosos têm que pagar por isso. Doa a quem doer.