Um dos principais partidos brasileiros reconstituídos recentemente, o PSD conquistou em âmbito nacional um espaço político e eleitoral dos mais consideráveis. Na maioria dos estados seus quadros têm levado adiante o projeto de crescimento que fortalece a militância e motiva a atuação do seu presidente, Gilberto Kassab.
Como em toda regra há exceções, nem só de brisa favorável vive o pessedismo tupiniquim. Em alguns estados, o cenário é desolador, sobretudo depois das eleições de 2022. Um dos casos mais emblemáticos é o de Mato Grosso do Sul. Kassab chegou a ter como favas contadas a afirmação de um movimento popular avassalador, ancorado na candidatura do então prefeito Marquinhos Trad a governador.
Aos dirigentes partidários, um vaidoso, imaturo e iludido Marquinhos vendeu a certeza de que seria eleito para governar o Estado. Tampouco desceu ao chão indispensável da humildade para aquiescer às ponderações e senões do irmão mais velho, o senador Nelsinho Trad, que tentou, inutilmente e por várias vezes, convencê-lo a adiar o projeto sucessório.
Com a experiência de quem acumula os mandatos de vereador, duas vezes prefeito e deputado estadual, agora senador e a autoridade de dirigente e o principal nome do PSD sul-mato-grossense, Nelsinho enxergava o atoleiro em que o irmão se metera. Além do desvio moral, ético e político da fidelidade a um entendimento recíproco com o governador Reinaldo Azambuja, para que seguissem juntos na sucessão estadual, Marquinhos desprezou o mandato municipal, entregando a prefeitura a outro partido, que mesmo aliado não iria ser-lhe fiel ou subalterno em alguns momentos.
O projeto de ser governador então fechou-se em copas, configurando- se como ambição pessoal, atropelando a tudo e a todos, inclusive o próprio partido. Vale frisar que nessa toada o prefeito atirou para o alto um mandato que seria de oito anos, com bons indicadores de prestígio e reconhecimento popular à administração. Isso virou pó. De nada ou pouco adiantaram os apelos de quem, com serenidade e isenção, via o partido afundar e levar consigo uma trajetória política que poderia ser brilhante.
Não haverá outras razões, portanto, para entender porque o senador Nelsinho Trad sente-se tão desconfortável na legenda. Mesmo sendo um dos mais produtivos parlamentares do País, conhecedor profundo dos caminhos e segredos do Planalto, consagrado como captador de recursos via emendas parlamentares, vê que sua liderança pode tornar-se um elemento inócuo caso continue no mesmo front do irmão.
Não só pela desastrosa performance nas eleições, quando ficou num modestíssimo sexto lugar, batido até por candidaturas de menor expressão eleitoral e política, o ex-candidato condenou o PSD ao vexame das urnas. Só elegeu um deputado estadual, não fez nenhum deputado federal – e corre o risco de também não assustar ninguém nas próximas eleições municipais.
Assim, pela inconsequência de uma candidatura e da postura de um candidato, o PSD de Mato Grosso do Sul desafinou no coro vitorioso da campanha bem-sucedida em outros estados. E dinamitou em seu maior líder regional, o senador Nelsinho Trad, a motivação para permanecer no abrigo que, sem fortes alicerces, dificilmente continuará em pé.