Com 464 votos num colégio de 513 votantes, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi reconduzido para mais dois anos de mandato no cargo (2023-25). Também de dois anos será o mandato de outro reeleito do Congresso Nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele recebeu 49 votos de 81 possíveis e bateu o rival Rogério Marinho (PL/RN).
Apoiado por um único bloco parlamentar que reuniu 20 partidos, Lira obteve a maior votação absoluta de um candidato ao cargo nos últimos 50 anos do Senado. A vitória de Pacheco foi um pouco mais difícil. Contudo, o placar, com robusta diferença, desfez previsões de véspera que apontavam diferença estreitíssima e até um empate.
Agora muita gente considera que os resultados da disputa congressual carimbaram duas derrotas do ex-presidente Jair Bolsonaro, que na Câmara não teve um candidato sob sua liderança, mas no Senado a candidatura de Marinho agrupava o grosso dos bolsonaristas na Casa.
Não deixa de ser uma verdade esta avaliação. Porém, é uma verdade menor se for considerado o tamanho da outra, que é o fracasso dos golpistas e extremistas de direita, a serviço do bolsonarismo, que tentam fazer de sua grande representação congressual um foco de ingovernabilidade do governo do petista Lula.
Assim, a candidatura de Marinho pode ser equiparada, por objetivos semelhantes, às seguidas tentativas de desmonte institucional perpetradas por gente que se vestiu de manifestante verde-amarelo para tumultuar o pós-segundo turno. Não aconteceram ao acaso os atos de vandalismo que sacudiram Brasília no dia em que Lula tomou posse, na descoberta de uma bomba instalada às vésperas do Natal para explodir em frente ao aeroporto e na marcha demolidora que destruiu salas e móveis das sedes dos poderes e inutilizou o patrimônio e peças históricas de valor incalculável.
Tudo isso foi agressão à democracia e à Constituição. Ainda que o senador Rogério Marinho não seja afeito a rupturas desse jaez, difícil crer que ele se incomodaria caso tivessem êxito os intentos de impedir a posse de Lula, anular a eleição ou provocar uma intervenção militar – em miúdos, um golpe de estado, provavelmente com Bolsonaro no poder, do jeito que reivindicavam os extremistas.
A democracia, portanto, foi a grande vitoriosa nas eleições de quarta-feira, 1º, na Câmara e no Senado. O terrorismo antidemocrático perdeu mais uma via legal em que apostavam para criar uma instabilidade capaz de motivar o golpe tão sonhado por quem não se conformou com a vitória de Lula, com a derrota de Bolsonaro ou, num plano mais elevado, com a afirmação plena e vigorosa do regime democrático.
A ditadura e seus órfãos odeiam a claridade. Pois que prossigam inconformados. No escuro. Um lugar onde os fracos se diluem por si. E que seja eterna a luz que ilumina a liberdade, a soberania, a paz e os caminhos da democracia no Brasil.