As eleições municipais para prefeitos e renovação das câmaras de vereadores se avizinham – será em outubro. É natural, portanto, que as especulações a respeito do pleito começam a ganhar corpo em todas as rodas sociais. Foi o que ocorreu dias passados, numa das quais participei. De pleitos eleitorais tenho antiga vivência, isto desde as eleições municipais ocorridas em 1947, quando ainda jovem estudante ginasiano participei, com ardor, pela candidatura do dr Fernando Corrêa da Costa pela UDN e venceu o candidato do partido governista, o PSD, na pessoa de Antônio Mendes Gonçalves, o Nonô, por larga margem de votos. O fato pitoresco ocorrido no pleito foi a distribuição pelo diretório municipal do PSD de um par de botinas; um pé antes e o outro após a votação! Clara compra de votos, mas que não adiantou…
Na reunião a que referi atrás, lembrei-me de alguns episódios interessantes ocorridos nas refregas eleitorais, alguns até hilários. Um deles sou agora instado a relembrar. Aconteceu nas eleições municipais de 1962 no vizinho município de Jaraguari. Duas lideranças disputavam o cargo de prefeito: pela UDN, com reduto eleitoral nas localidades de Jaraguari velho e Jatobá (sede administrativa), o fazendeiro Isolito Pereira; pelo PSD, com base nos distritos de Bandeirante (localidade ainda não emancipada como município) e no Bom Fim, o também fazendeiro Francisco Antônio de Souza – o prestigioso chefe político Chico Bandeira. Só uma hábil manha política poderia derrotá-lo, e foi o que ocorreu.
A disputa foi acirrada e os prognósticos favoráveis amplamente ao candidato pesedista que tinha o aval do líder nacional, o senador Filinto Muller, enquanto que Isolito contava com a declarada simpatia do governador do estado Fernando Corrêa da Costa. Na localidade do Bom Fim segundo as pesquisas ponteava na preferencia dos eleitores o nome de Chico Bandeira. Apenas uma seção reunia os eleitores da localidade e a votação transcorreu na absoluta normalidade. Foi demorada a redação da Ata, pois o então Código Eleitoral exigia fosse registrado com minúcias todos os detalhes do ocorrido no processo de votação. Já era noite escura quando foi encerrado o processo, e o presidente da secção acompanhado dos fiscais iniciavam o deslocamento para entregar a urna à sede do juízo eleitoral em Campo Grande, a 45 km distante. Aboletaram-se todos num Jeep Willys e “providencialmente” a urna foi alojada no banco traseiro do veículo.
Logo na saída do núcleo rural do Bom Fim, o Jeep, ao tentar atravessar as águas do córrego do Chapéu, “afogou” e os passageiros desceram para empurrá-lo para fora do leito. Neste instante de esforço e apreensão eis que surgem da escuridão marginal da estrada pessoas que sorrateiramente trocam a urna por outra devidamente preparada para surpreender o resultado da eleição.
Na apuração, Chico Bandeira liderava com folgada margem de votos e teria sua vitória consagrada com o resultado esperado da urna do Bom Fim, a derradeira a ser apurada. Não foi essa porém a expectativa dos correligionários de Isolito Pereira. Aberta a contagem, diminuía a diferença entre os dois candidatos, até que Isolito ultrapassa Chico Bandeira e vencia a eleição.
Desde as eleições a “bico de pena” tão comuns na república velha – um dos motivos preponderantes para a eclosão da revolução de 1930 – os raros pleitos no período de Vargas, depois com a queda do Estado Novo, e sob a égide da Constituição de 1946, o Código Eleitoral com as versões que se seguiram até os dias atuais não tiveram condições de impedir as irregularidades que tem manchado a lisura dos pleitos. As irregularidades tem ganhado contornos tão extravagantes principalmente pelo uso depravado do chamado “caixa 2” , de uso generalizado, motivo de intensa reprovação da opinião pública. O processo eleitoral, com uso da urna eletrônica muito contribuiu para levar lisura ao pleito, mas está gerando dúvidas sobre a legitimidade do seu uso em algumas regiões do país. Somada esta circunstância ao uso do “caixa dois” há fundadas dúvidas no resultado de muitas eleições ocorridas recentemente em nosso país.
Dessas dúvidas, duas estão objeto da justiça eleitoral,: a reeleição da senhora Dilma Roussef e a eleição de Fernando Pimentel para o governo de Minas Gerais, ambos do PT.
(*) Ruben Figueiró, ex-senador da República, artigo publicado no jornal Correio do Estado