Para administrar uma cidade, sobretudo uma cidade grande, é preciso ter qualidades indispensáveis, sem as quais não sobrevivem nem política e nem administrativamente quaisquer gestores, por mais qualificados que sejam. Se honestidade é uma obrigação e tem sua gênese nos princípios morais, a responsabilidade é um dos atributos que diferenciam o bom do mau gestor.
Campo Grande vinha sendo conduzida desde 2017 ao primeiro trimestre deste ano de uma maneira irresponsável. Esse período não inclui a prefeita atual, Adriane Lopes, que herdou de Marquinhos Trad um abacaxi cascudo, espinhento e amargo. Na verdade, um abacaxi indigesto, até para descascar.
Não é exagero algum. Se na edição anterior desta “Folha” o editorial trazia a preocupação deste editor acerca da classificação da capital de Mato Grosso do Sul entre os 10 piores no desempenho de gestão, avaliação que foi obtida com a radiografia técnico-gerencial do ciclo Marcos Trad, nesta edição é semelhante o grau apreensivo do articulista. E os motivos estão alinhados na realidade dos compromissos que a prefeitura não cumpriu e não poderá cumprir em tempo hábil.
Encurralada pelas perspectivas claras de ingovernabilidade, com os cofres raspados e mais magros a cada dia, a prefeita sentiu-se sem saída, obrigada ou obrigando-se a sapecar no combalido lombo do contribuinte um reajuste de 7,96% no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Só assim poderá começar o próximo exercício com algum fôlego, pagando o preço político e popular de seu ainda curto governo decretar o primeiro aumento tributário em seis anos.
Quase ao mesmo tempo, ela descarta a concessão do reajuste de 10,39% aos profissionais do ensino público. A melhoria, que havia sido prometida em campanha pela chapa Marquinhos-Adriane, hoje não tem nas finanças municipais a reserva disponível além do antigo salário. Aos contribuintes, então, junta-se a voz protestante dos mestres e servidores administrativos da Educação.
A culpa é de Adriane Lopes? Em princípio, não é. Ela pegou uma batata quentíssima. Seu predecessor gazeteou nas aulas de responsabilidade e arrancou dos cadernos de gestão as páginas que ensinam obrigações e soluções para oferecer à sociedade as garantias básicas sob competência do poder público.
Além de não cumprir importantes compromissos com a cidade, deixar obras inacabadas e aplicar o calote em demandas contratuais, o prefeito, ao renunciar ao cargo para correr em busca de maiores poderes, acendeu vários pavios que sugerem implosão de governança. Descapitalizou a prefeitura e praticou o verbo desperdiçar em larga extensão, com nomeações cartoriais, gastos desnecessários e outras drenagens, cujas sequelas começam a se manifestar.
A prefeita poderia fechar o ano fazendo as coisas que seu antecessor não fez ou não teve capacidade de fazê-lo. Por exemplo: melhorar e fortalecer as relações republicanas com a Câmara Municipal, ouvindo vigorosos apelos do próprio presidente do poder neste sentido. Restabelecer diálogos com os segmentos influentes da comunidade que ainda não foram ouvidos adequadamente. E promover uma revolução depuradora das finanças. Será um bom começo, uma transição mais segura, porque o governo ainda não começou – mas já lá se foram oito meses.
Diante de tudo isso – e não precisa mais – pode-se inferir que a sra Adriane Lopes deixou de ser vice e para “ganhar” de Marcos Marcelo Trad, além da titularidade do cargo, várias bombas de efeito retardado no próprio colo. O pior é que elas já começaram a explodir sem precisar de um estopim aceso.
Tenho dito!