Na famosa Guerra entre Grécia e Tróia, no século XII Antes de Cristo, o guerreiro Odisseu mandou fazer um cavalo de madeira, oco, pôs seus soldados dentro, vedou e ofertou aos troianos como sinal de agrado e submissão. Os troianos abriram os portões e festejaram o presente com muito vinho. Embriagados, não viram a tropa grega sair da cavidade do cavalo e foram abatidos.
Desse episódio surgiram expressões figurativas muito empregadas ao longo dos séculos. Uma delas é odisseia, referente ao guerreiro da Grécia. A outra é “presente de grego”, utilizada para ironizar uma oferta que esconde fins danosos a quem a recebe. A comparação cai como uma luva nas mãos desta próspera e judiada Campo Grande.
Vamos, então, aos fatos e simbologias: a prefeita Adriane Lopes precisará protagonizar uma verdadeira odisseia para libertar a cidade que governa de um caos sem precedentes. Recebeu do titular do cargo, o ex-prefeito Marquinhos Trad, um verdadeiro presente de grego, tamanha é a coleção de desastrosas realidades administrativas, em todas as áreas.
Financeiramente à beira do abismo, sob a gestão de Marquinhos o Município é o pior em gestão fiscal entre os 79 de Mato Grosso do Sul. Os limites prudenciais previstos pela Lei de Responsabilidade Fiscal e na execução orçamentária foram estourados. Adriane assumiu a prefeitura com gastos além dos 59%, enquanto o limite máximo é de 51,3%.
Em 2021 o então prefeito comprometeu 70% da sua receita com a folha de pessoal, índice nivelado nos piores patamares das capitais. A gigantesca São Paulo compromete 40,5%. E a média das capitais é de 50%. Isto significa que não houve controle, equilíbrio e muito menos um tratamento decente e cuidadoso com a verba do contribuinte.
Na herança de Marquinhos estão outros trambolhos para sua ex-vice-prefeita. O sistema de transporte coletivo só não colapsou porque o governo estadual fez a vez da prefeitura na contrapartida contratual. Os postos de saúde, salvas as exceções, se definem no caos. Marquinhos não honrou o que havia combinado com o servidor público e os professores podem fazer novas paralisações.
A prefeita está fazendo o que pode, desde que assumiu nestes 10 meses à frente do executivo. Tomou várias medidas fundamentais para o enxugamento das despesas públicas. Quer retomar o controle de custeio e o equilíbrio financeiro e fiscal, condições perdidas pelas mãos desviadas do seu antecessor.
Suas medidas merecem elogios. São corajosas. Entretanto, ainda são incompletas. É preciso estancar todos os ralos, acabar com a sangria desatada que foi o uso dos cofres públicos para finalidades que não foram atendidas até hoje.
É fundamental ir além do que já foi. A população está a reclamar esta caminhada de sua gestora. Ser rigorosa. Inflexível na defesa dos cofres públicos e na guarda do interesse coletivo. Tirar a capital deste enorme buraco. Porque se não fizer isso, a prefeita corre o risco de ser tragada pela maré braba do desgoverno que a precedeu.
Tenho dito!