A mesa está posta, em forma de urna, e sobre ela a faca e o queijo em forma de botões
Campo Grande aproximava-se com velocidade espantosa e bem visível de seu primeiro milhão de moradores. Esta visibilidade caiu e já não oferece tanta clareza, embora se mantenha a sensação de que o crescimento populacional não parou. Porém, há diferenças perceptíveis em inúmeros e sintomáticos aspectos.
Todas as condições que faziam da cidade uma das urbes de maior interesse para viver bem, investir, conhecer e até servir como um parâmetro nacional estão esgarçadas, quando não diluídas. Um dado inicial pode ser o da enfraquecida autoestima da população. O campo-grandense ama a sua cidade e as coisas de sua cidade, mas está infeliz diante do que as gestões atuais fazem com ela – aliás, contra ela.
Um outro sinal eloquente deste preocupante cenário: antes, e não faz tanto tempo, a Capital sul-mato-grossense pontuava entre as primeiras no ranking das cidades com os melhores índices de desenvolvimento humano, socioeconômico e urbano do Brasil. Os mesmos indicadores oficiais que faziam este reconhecimento, hoje não encontram nela semelhantes situações para que seja conservada no topo desta honrosa referência.
E quem possui a melhor régua ou os critérios mais infalíveis para dar o veredito sobre a Campo Grande atual, aquela em que vive, são seus cerca de 942 mil – ou mais – habitantes. Ou eles, num aspecto geral e mais crítico, ou os eleitores, que com seus diferentes gostos políticos podem opinar e, se necessário, irem às urnas para manter ou mudar o que aí está.
Contudo, seja a população em geral, sejam os eleitores, da verdade não há quem consiga se esconder ou se omitir. Porque o morador, eleitor ou não, sobretudo o morador da periferia e que integra mais de 90% dos habitantes, é quem sente na pele e no bolso a sobrecarga e os transtornos de unidades de saúde em estado caótico, de escolas municipais que retardam o ano letivo e atrasam o aprendizado, de transporte coletivo depauperado por ônibus envelhecidos e tarifas proibitivas, de ruas esburacadas e de desperdício e absurdas gastanças do dinheiro público.
Outubro está chegando. Não é necessário que o desejo de um faça o juízo de aprovação ou reprovação sobre o juízo do outro. Basta apenas que a necessidade não atendida de cada dia dê a última palavra. A mesa está posta, em forma de urna, e sobre ela a faca e o queijo em forma de botões. É só apertá-los, com a certeza de estar fazendo aquilo que manda sua consciência e sua fome de justiça e de governo. Porque o desgoverno causou indigestão.