Vereadores querem passar a limpo as contratações misteriosas e a sujeira nos bairros abandonados da cidade
Em julho de 2023, um ano após as denúncias do escândalo do Proinc (Programa Assistencial de Inclusão Profissional), na gestão de Marquinhos Trad (PSD), a prefeita Adriane Lopes (PP) mudou o nome e algumas regras desta iniciativa do poder publico, propagandeando seu compromisso com a transparência. Alterou regras do Proinc e enviou à Câmara de Vereadores a proposta criando o Primt (Programa de Inclusão ao Mercado de Trabalho). Além da inclusão social com a vaga de trabalho por um salário mínimo, um dos objetivos seria reforçar o pessoal que faz o serviço e limpeza.
A sociedade esperava de Adriane um mecanismo oposto àquele que Marquinhos implantou para angariar cabos eleitorais, às custas dos cofres publicos. Mas sua sucessora não só repetiu, como fez muito pior. Mesmo com nova denominação, ela manteve a decrépita prática da politicagem: o tal Primt continua sendo a maquiagem de um cabide de empregos, que funciona com o requinte de driblar a transparência e sonegar a prestação de contas legalmente exigida.
Por previsão de uma lei que a prefeita Adriane Lopes (PP) criou e não faz questão de cumprir, a prefeitura, por meio da Funsat (Fundação Social do Trabalho), é obrigada a prestar contas do Primt de seis em seis meses. Com mais de um ano de criação, esta prestação de contas não havia sido feita, o que aconteceu somente depois de um alerta emitido por veículos da imprensa local, entre os quais a Rede CBN de Rádio.
Agora, conforme os prazos definidos pela lei da prefeita, a próxima audiência publica para prestação de contas deve acontecer quarta-feira, 27, da semana que vem. Contudo, até à última terça-feira, 19, vários vereadores, entre os quais Professor André Luiz (Rede) e Clodoílson Pires (PSDB), que são membros de comissões permanentes ligadas ao tema, não tinham sido informados oficialmente se a Funsat ou a prefeitura enviaria representantes.
SUJEIRAS
O vereador Claudinho Serra (PSDB) lamenta: “Temos uma situação lamentável na gestão da cidade. Nas recentes semanas foram vários protestos, manifestações de servidores que não recebem o adicional de insalubridade previsto na lei, moradores do Noroeste e outros bairros divididos entre lama e poeira, até com gente morrendo porque a ambulância do Samu atolou”, indigna-se.
Serra prossegue: “E agora, além de ônibus escolar e caminhão de lixo também cair nos buracos e atoleiros, numa capital com quase um milhão de habitantes sem receber serviços publicos mínimos e uma gestão que não cumpre decisões judiciais, chove de comissionados, contratações suspeitas e folha secreta no Diário Oficial. São marcas do período Marquinhos Trad-Adriane Lopes”.
SEM TRANSPARÊNCIA
Adriane Lopes simplesmente deu um chute na obrigação de divulgar ampla e sistematicamente todas as ações de seu governo. O povo não sabe quanto é gasto no preenchimento de cargos em comissão, sem concurso; quantos desta classificação, no Primt e em outros setores, são efetivamente qualificados para a função; o total de gente empregada; e outras informações que ainda estão escondidas.
Não há diferença entre os estilos de Marquinhos e Adriane. É um só o método desta dupla para aparelhar eleitoralmente seus mandatos, utilizando o dinheiro do contribuinte. O Proinc de Marquinhos, ao ser denunciado pelo Ministério Publico e a imprensa, que deveria atender somente os jovens das famílias de baixa renda, inscritas no CadÚnico, abrigava também centenas de pessoas fora deste critério.
Eram empresários do comércio, professores, membro de facção criminosa, socialite armamentista, carnavalesco aposentado, familiares de aliados políticos e até influenciador digital que desfilava suas vaidades nas redes sociais com as selfies de ostentação. Grande parcela dos contratados para fazer serviços na limpeza publica provavelmente nunca viu ou pegou muito pouco no cabo de uma vassoura. Empresária no ramo de bolsas e tênis, armamentista praticante de tiro – esporte caríssimo – Luana Tomicha Pina, ou Luana Pina, era uma das abrigadas pelo Proinc.
A prefeitura gastava mensalmente R$ 3,6 milhões com os salários do programa. Havia desembolso para passe de ônibus, 13º salário, cesta básica e alimentação. Calcula-se que mais de 3 mil pessoas eram beneficiadas, mas os números exatos sobre pessoal e gastos do Primt – quem sabe – só serão divulgados na audiência publica de prestação de contas. Isto, é evidente, se a prefeitura comparecer e estiver disposta a levantar o véu que dissiparia as suspeitas e as dúvidas da sociedade.