À primeira vista, nenhum ser humano consegue a façanha de orar em seu próprio velório. Elementar constatação. Qualquer fato que escape a esta verdade terá sido uma contribuição única na história dos tempos a desafiar todos os compêndios da Ciência e a acuar o entendimento dos especialistas do conhecimento espiritual.
Entretanto, nas ações e fatos da vida humana esta limitação material deixa de existir quando o que está em jogo é o alcance do simbolismo. Em Campo Grande, por exemplo, uma verdade absoluta, a má gestão da cidade, seja talvez definitiva.
Talvez porque a duração ou a sobrevida desta gestão ainda mantém um pouco de fôlego, não nos pulmões ou nas iniciativas, mas no calendário. Restam parcos nove meses e meio para o término da primeira gestão de Adriane Lopes, primeira mulher que saiu das urnas para governar a Capital. Em quase dois anos ou 24 meses ela ainda não fez as mais prosaicas lições de casa.
O resultado é o desleixo generalizado que vem tomando conta das ruas, praças, repartições municipais, postos de saúde, escolas inacabadas e até – pasmem! – no cemitério! Isto mesmo: a imprensa publicou denúncias, com imagens e depoimentos, de uma família que sofreu singular e revoltante constrangimento ao se ver obrigada a utilizar suas próprias mãos e esforços para sepultar um ente querido.
Não há adjetivos que possam dimensionar tamanha humilhação. Num momento de dor extrema, de total fragilidade emocional, física e psicológica, ser instada a fazer aquilo que deveria ser feito pelo pessoal especializado, no caso, os profissionais do sepultamento, os coveiros.
Não havia um coveiro no cemitério municipal para fazer este enterro. A prefeitura não cumpriu a obrigação que, para a gestora, deve constar como detalhe secundário, sem a mesma importância que dá à legalização da folha secreta ou a um concurso para se envernizar no ano eleitoral.
Ter coveiros nos cemitérios, concluir obras inacabadas para garantir normalidade no ano letivo, evitar mortes e outros contratempos causados pelas deficiências nos postos de saúde, pagar com justiça as categorias de trabalhadores que trabalham de verdade (guardas municipais, enfermagem, servidores da saúde e educação, por exemplo) – tudo isso não deve ser prioridade. O tratamento que é dado demonstra.
Por estas e outras, se o ser humano não tem poder para orar em seu próprio velório, a gestão atual de Campo Grande é capaz de cavar e sepultar política e administrativamente sua própria sepultura. Está descansando em paz.