Há diversas maneiras de demonstrar coragem. Na atitude, na palavra, no gesto, na decisão e até nos impactos emocionais, quando chorar torna-se expressão corajosa de um ser humano que não teme expor sua sensibilidade aos olhos do mundo.
A coragem poderia ser então um sinônimo de valentia ou destemor, mas nem sempre para ilustrar comportamentos elogiáveis. Até para fazer besteiras e repeti-las é preciso ter muita, mas muita, coragem. Porque o erro que se repete e se transforma em vício cria um fenômeno pessoal novo, que nasce como coragem, porém, por exercício repetitivo, elabora sua própria metamorfose e torna-se desfaçatez, descaramento, cinismo.
A Câmara de Vereadores de Campo Grande está analisando e deverá votar nas próximas sessões um projeto de lei da prefeita Adriane Lopes que produzirá elevações salariais incompatíveis com a caótica disponibilidade do orçamento municipal. Está embutido na proposta do Executivo um reforço considerável aos ganhos de privilegiados assessores d prefeita que deseja mais quatro anos no poder.
Pode-se afirmar, sem medo de erro, que Adriane Lopes é uma gestora e política corajosa?
Sim. E um sim bem contundente, pois só mesmo um ato de valentia extrema, adornada por um verniz comportamental popularmente batizado como “cara-de-pau”, poderia explicar a audaciosa tentativa da prefeita de legalizar – na verdade, “esquentar” – um dos abusos de sua gestão.
Pode ser que para ela a “folha secreta”, os “rombos” nas contas da prefeitura e a violação de regras fiscais e até de ajuste de conduta firmado com o Tribunal de Contas não passam de intriga oposicionista. Pode ser que para ela este mesmo Tribunal seja bonzinho, condescendente, limitado no seu poder de fiscalizar o uso do dinheiro publico. Pode ser.
O que não pode é a prefeita confiar no excesso de força e influência que tem para fazer a Câmara Municipal curvar-se aos seus desejos e cair no mesmo escorregador que pôs Campo Grande no fundo de um abismo de insolvência, incapacidade no gerenciamento das demandas da cidade e de outros atos de desgoverno.
É coragem demais para pouco verniz.