Ex-senador faz ameaça, prometendo escrever um livro que vai “dar dor de cabeça” a muita gente
De um lado, a palavra de uma autoridade no exercício legítimo de suas funções; no lado oposto, as alegações de um político que teve o seu mandato cassado sob a acusação de ter tentado obstruir a Justiça.
Os dois protagonistas são figuras muito conhecidas dos brasileiros e, especialmente, dos mato-grossenses e sul-mato-grossenses. Mas não é um bate-boca doméstico – a polêmica está em um âmbito bem elevado, nas alturas de duas das maiores casas institucionais do País, o Judiciário e o Legislativo.
Gilmar Mendes, 68, de Diamantino, Mato Grosso, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), afirma com todas as letras e vírgulas que o ex-senador Delcídio Amaral, 69, nascido em Corumbá, Mato Grosso do Sul, é um mentiroso. Mesmo não sendo mais um senador e esteja fora do Legislativo, sem qualquer mandato político, a vida pregressa de Delcídio ainda impacta, direta ou indiretamente, nas implicações de sua ficha com o Congresso Nacional.
A acusação de Mendes refere-se às declarações feitas na delação premiada que Delcídio concordou em pactuar com o Judiciário durante a Operação Lava Jato. Em entrevista ao Brazil Journal, Mendes comentou a operação Lava Jato e frisou que a mentira do ex-senador provocou um erro da Justiça. “Teori [Zavaski, ministro do Supremo] nos contou uma história que tinha cabeça, tronco e membros. Disse que Delcídio revelou que o banqueiro André Esteves [BTG Pactual] teria oferecido R$ 50 mil ao filho de Nestor Cerveró [ex-diretor da Petrobras condenado por corrupção passiva] e uma pensão ao rapaz. O então senador disse ao ministro que o banqueiro teria até oferecido um plano de fuga de Cerveró do presídio de Curitiba”, relatou.
O ministro Mendes prossegue: “Teori queria a nossa autorização para prender o Delcídio como se ele tivesse em crime permanente. E queria também prender André Esteves, coisa que aconteceu. No fim, verifica-se que Delcídio era um grande mentiroso, tinha engendrado uma série de histórias. O dinheiro não veio de Esteves, aparentemente teria vindo de José Carlos Bumlai [pecuarista amigo de Lula condenado no âmbito da Lava Jato]. Em seguida, enfatizou: “Construiu-se um grande erro judiciário”.
AMEAÇA
Depois de ter perdido duas eleições no período pós-cassação, e agora pré-candidato a prefeito de Corumbá, Delcídio faz sua contestação a Gilmar Mendes. Garante não existir outra história, debita nas contas de Teori Zavaski e Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da Republica, a armação do flagrante forjado que serviu para enquadrá-lo e disse que a mentira foi construída pelo Judiciário.
Ao longo de uma série de argumentos para se defender e contra-atacar, o ex-senador renova a promessa que anda fazendo sobre o livro-bomba que vai escrever. Antecipa que quer contar muita coisa ainda não revelada, dando “nomes aos bois” e esclarecendo dúvidas que ficaram no curso da Lava Jato. A obra deve ser publicada ainda este ano. “Será um sucesso para mim e vai dar uma grande dor de cabeça grande pra outros, inclusive do Estado. Nada como o tempo”, ameaçou.
O ministro Gilmar Mendes, do STF: “Construiu-se um grande erro judiciário” Foto Sérgio Lima/Poder 360