O El Niño está influenciando o clima de Mato Grosso do Sul, causando uma situação climática extrema e atípica. A falta de chuvas desde dezembro de 2023, com déficit de precipitação em todo o Estado, aumenta o risco de incêndios florestais no Pantanal e nos outros biomas do Estado: Cerrado e Mata Atlântica.
O meteorologista Vinícius Sperling, do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul), explica que em todo o Estado, com as chuvas abaixo do esperado há quase três meses, a situação deve se agrave nos próximos meses. Os dados são consolidados a partir do monitoramento de 48 municípios, com informações do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) e Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
“Em dezembro, de 2023, tivemos chuvas abaixo da média história em 39 municípios analisados. Já em janeiro deste ano, a situação não foi diferente, em 41 municípios houve déficit de precipitação. Sem acúmulo de água no solo, os rios estão com níveis mais baixos, é reflexo da falta de chuva”, pontua o meteorologista.
A situação crítica persiste desde o início do ano, nos 15 primeiros dias do mês de fevereiro, praticamente todos os municípios monitorados tiveram chuvas abaixo da média. “Com exceção de Porto Murtinho, que teve 164 milímetros, mas 100 milímetros caíram em apenas um dia, foi um evento atípico que fez com que a média subisse. De forma geral, o impacto da falta de chuva aparece nos indicadores de seca, que tem se intensificado em todo o Estado”, afirma Sperling.
No Pantanal, de acordo com a análise do Cemtec, a área com seca foi intensificada no período que deveria ser mais chuvoso, entre dezembro e janeiro. “Desde novembro a gente observou o avanço da seca, com piora em janeiro por conta das chuvas muito abaixo do ideal. Isso tudo resulta em aumento dos focos de calor, incêndios florestais, em todos os biomas presentes em Mato Grosso do Sul”, disse o representante do Cemtec.
Mudanças climáticas
O El Niño alterou as condições de temperatura e precipitações, com anomalias que provocaram situações extremas – de máximos e mínimos volumes – de chuvas, umidade relativa do ar, além de calor.
Fabiano Morelli, pesquisador do Programa de Monitoramento de Queimadas por Satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), explica que em dezembro de 2023, boletim mensal sobre o fenômeno El Niño já apontava previsão de condições mais secas do que o normal durante o mês de janeiro deste ano.
“A análise explica toda a situação do El Niño. A quantidade de chuvas tem sido abaixo do esperado em toda a região central do Brasil, e a temperatura está acima da média. O fenômeno age nos períodos secos e quentes, mantendo a situação assim no centro do País, e provocando precipitações intensas, com inundações e enchentes no sul”, explicou Morelli.
O relatório do Inpe, elaborado em conjunto com Inmet, ANA e Cenad (Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres), apresentou o monitoramento e previsões sobre o fenômeno em 2023, e também informou sobre possíveis impactos este ano.
A combinação de baixos volumes de chuva e irregularidade espacial das precipitações em Mato Grosso do Sul contribui para manter o armazenamento hídrico em níveis baixos. Essa situação, intensificada pelo El Niño, aumenta o risco de incêndios florestais fora da época crítica no Pantanal, que geralmente ocorre entre julho e outubro.
O trabalho dos bombeiros é realizado por terra e ar, com utilização de aeronaves para combate às chamas em locais de difícil acesso e transporte de equipes. A atuação também conta com uso de tecnologia – drones e georreferenciamento –, que torna o trabalho de controle e extinção do fogo mais efetivo.
Desde o mês de janeiro, o Governo do Estado já prepara ações preventivas e de resposta, para garantir que o combate aos incêndios em todos os biomas – Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica – seja eficiente.
“Toda essa logística faz com que o Mato Grosso do Sul, tenha se tornado nos últimos anos, uma referência na proteção ambiental, também com investimento da capacitação profissional, materiais, tecnologia. Tudo para dar uma resposta ainda melhor”, finalizou a tenente-coronel Tatiane Inoue.