A terena Luana não tinha documentos para a inscrição ao Enem e agora está na próxima turma de acadêmicos da UFMS
Localizada entre Miranda e Aquidauana, com pouco mais de 36 mil hectares e cerca de 5 mil indivíduos da nação terena, a Aldeia Cachoeirinha acaba de ganhar mais um motivo para sua coleção de legítimos orgulhos: a jovem Luana Salvador Rodrigues, 18, entrou na fila da próxima turma de acadêmicos que começarão a fazer este ano, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o Curso de Direito. E o orgulho é muito maior, porque a moça foi a primeira colocada no Vestibular.
Ela afirma que já nos tempos de criança sonhava ser advogada – e com um objetivo maior: defender as causas de seu povo. O sonho deu a ela energia e determinação para realizá-lo, sobretudo quando cumpriu as tarefas e currículos do Ensino Médio, concluído na Escola Estadual Indígena Cacique Timóteo, na própria terra indígena. Agora, já de mudança para Campo Grande, ela se vê redobrar a confiança que seguirá seu caminho, com novos desafios a vencer após concretizar a primeira etapa do sonho.
Euciney Paíz Flores: ” A aprovação é reflexo da continuidade de um trabalho realizado nas unidades escolares da Rede Estadual, que trabalha com a oferta da Educação Indígena”.
ESCOLA PÚBLICA
Luana tem gratidão pela família e pelo seu povo, mas também fala com carinho e reconhecimento aos mestres e colegas da Rede Estadual de Ensino, importantes no aprendizado. “Desde que entrei no Ensino Médio, tive como meta me preparar bem para os vestibulares. E não foi fácil no início. O 1º ano foi durante a pandemia, mas me organizei para conciliar os estudos da escola com os de casa”, relata.
Sofreu um pouco por não conseguir inscrever-se no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) – não tinha todos os documentos necessários -, mas não desistiu. Mergulhou ainda mais nos estudos para o vestibular e o prêmio foi conquistado, com louvor. Era sua primeira tentativa de ingressar num curso superior e recebeu de sua irmã, Anaís, a boa notícia. A festa foi vibrante e emocionada com a família e os moradores da Aldeia Mãe Terra, onde Luana mora, junto aos pais.
“A aprovação é reflexo da continuidade de um trabalho realizado nas unidades escolares da Rede Estadual, que trabalha com a oferta da Educação Indígena”, ressalta o técnico pedagógico Elciney Paiz Flores. Ele integra o corpo de servidores estaduais que cuidam da Educação Escolar Indígena – Território etnoeducacional Povos do Pantanal, da Coordenadoria de Modalidades Específicas da Secretaria Estadual de Educação.