O Brasil e Mato Grosso do Sul, em particular, estão vendo a imprensa divulgar notícias sobre os lados “A” e “B” da política. Num momento exibe as cenas alentadoras de um presidente ou de um governador dialogando com adversários, sem tratá-los como inimigos e governando republicanamente, desamarrados de princípios ou caprichos ideológicos e partidários.
Noutro momento, contudo, a mídia expõe ao vivo e a cores façanhas nada republicanas de gestores e gestoras que usam seus mandatos como se fossem propriedade privada, sujeita aos seus egos e vaidades. Com isto, instalam e alimentam focos de apodrecimento moral no ambiente de gestão e de decisões, fragilizando-se eticamente. E cedem, sem resistência, às vezes alegremente, aos apelos do clientelismo e da esbórnia política.
O presidente Lula, do PT, de esquerda, recepciona com abraços e reverência fidalga o político Tarcísio Freitas, do Republicanos, de direita, bolsonarista, governador do maior estado brasileiro. Discursam e conversam trocando elogios e afagos verbais, sem a necessidade de um aderir ao que pensa o outro.
De igual maneira, o governador Eduardo Riedel, do PSDB, de centro-direita, esmera-se na cordialidade, nas parcerias e nos alinhamentos com as forças que não são de seu campo ideológico – caso dos petistas que ocupam cargos em seu governo. Riedel recebe, trata bem e toma café com toda e qualquer autoridade que aqui chega, sem olhar sua identidade ideológica ou sua cor partidária. E assim, na esteira do respeito e da democracia, honram com louvor a delegação que receberam da sociedade.
Entretanto, no malsinado contraponto, o lado “B” da vida publica se manifesta replicando cenas de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. A prefeita Adriane Lopes, do PP, partido de direita, se recusa a fazer parte de agendas com autoridades federais, que servem a um presidente de esquerda, o mesmo Lula que troca gentilezas com o direitista Tarcísio.
Ou falta à primeira mulher eleita para governar a capital a visão aberta e desprendida do espírito republicano, ou falta a sensatez, ou espírito publico – ou tudo isto. Nada a impede de abrigar-se sob o teto de uma legenda que a cada dia aprofunda suas raízes na obscuridade do extremismo retrógrado.
Porém, nada custaria ocultar por instantes, no vão escuro e abismal da incompetência, os traços grotescos do desgoverno que castiga o município. E neste mesmo instante apresentar-se nas agendas incômodas, até fazendo de conta que o inimigo é apenas adversário, apenas para que a população a considerasse como alguém que respeita o mandato, que não hostiliza o bom-senso e que não faz do poder uma narcisista proclamação de superioridade.
Troco de eleitor é igual dor de cabeça. Não dá uma vez só.