Bosco Martins lança obra que carimba sua incursão literária e oferta à cultura um bem histórico
Mais do que intimidades, algo inalcançável, as revelações, hábitos e outros elementos da rotina de Manoel de Barros compõem um mosaico de coisas em sua maioria não muito conhecidas do público sobre o poeta. Este mosaico foi bordado, pacientemente, pelo jornalista e escritor Bosco Martins e transformado num livro que chega como oferta de inestimável valor à cultura, na mais ampla universalidade que transcendia das obras do saudoso escritor, morto em 13 de novembro de 2014, aos 98 anos.
“Diálogos do Ócio” foi escrito com renovado carinho por alguém que teve o prazer de conviver com este celebrado ícone da literatura brasileira. Bosco Martins enleou na carreira jornalística e no dom poético a curiosidade e a admiração instigadas pelos livros de Manoel de Barros. Foi fisgado pela imagem de excentricidade com que o poeta geralmente era descrito. Fizeram amizade e se tornaram cúmplices.
Ao longo de 30 anos trocaram conversas (fiadas ou não), escritos e bem-humorados momentos de proseio. Hoje, nove anos após a morte de Manoel de Barros, o gênio sul e mato-grossense do pós-modernismo volta à cena de onde nunca saiu, desta vez numa obra intimista e provocante que será lançada neste domingo (17), a partir das 9h. E o local não poderia ser mais apropriado: a residência de MB – como é tratado no livro por Bosco Martins -, na Rua Piratininga. É a Casa Quintal Manoel de Barros.
O LIVRO
Chancelado pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em 2022 para acadêmicos e professores, com publicação impressa da Editora Los Bugres, do escritor Douglas Diegues, a obra tem prefácio do jornalista e escritor Hamilton Ribeiro e a apresentação do também escritor Sérgio Fernandes Martins, desembargador-presidente do Tribunal de Justiça (TJ/MS). O lançamento abre as comemorações pelo aniversário de Manoel, que nasceu em 18 de dezembro de 1926, em Cuiabá (MT).
Em 300 páginas, divididas em 9 capítulos, Bosco Martins revela como Manoel de Barros se tornou um poeta “além do tempo e da concepção multicultural…que transpôs conceitos e preconceitos dos hábitos e conhecimentos do homem, mostrando que o inútil é fonte de criação, assim como no ócio também se exercita o pensamento”. O autor apresenta seu livro como “inventário” de décadas de convivência com o poeta, com muita naturalidade e fidelidade ao pensamento e às formas como manifestava as “inquietudes”.
Na opinião do secretário estadual de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Marcelo Miranda, a história de Manoel de Barros é a história de uma civilização que tem na arte de escrever e fazer cultura um meio de promover o amor, exercitando as possibilidades da palavra e criando intimidades benfazejas, sobretudo com o que parece inútil ou ocioso. No suporte do lançamento, não falta o toque pessoal e afetivo da família, como no caso de Silvestre, o neto mais novo de Manoel de Barros.