É bem verdade que a vermelhidão dos incêndios e o acinzentado das matas cozidas são imagens reais e, infelizmente, recorrentes. Este é um dos retratos chocantes que o Brasil e o mundo têm do Pantanal, uma consequência da perversa combinação entre o dolo humano e a resposta de uma natureza covardemente agredida.
Felizmente, este retrato que denuncia uma face da realidade não é a fotografia inteira. É uma parte que, sem o devido cuidado que está sendo dado ao todo, fatalmente contaminaria o organismo de um dos mais belos e prodigiosos corpos ambientais do planeta. Um cuidado com o qual Mato Grosso do Sul, ao mesmo tempo, confessa o que não fez e mostra o que está fazendo para justificar o conceito de desenvolvimento sustentável.
Só há sustentabilidade quando se tem, concretamente, a garantia da vida. Tal garantia não se adquire a preço de banana no boteco da esquina. Garantia de vida é um bem que exige compromisso de humanos para humanos, de natureza para natureza. O Estado, ainda bem, já vem fazendo isso há alguns anos.
Território de abundante diversidade e incontáveis fontes de riquezas, o Pantanal desafia o Homem a viver com ele e usufrui-lo, mas sem feri-lo. Algo extremamente difícil, porém possível, haja vista a convivência secular entre o ecossistema e os povos originários e nativos (indígenas, ribeirinhos e proprietários rurais conscientes).
Hoje, no entanto, está invadindo o cenário a categoria dos predadores, insaciáveis na fome ilimitada de lucro e de poder. São instigados pelo brilho irresistível do ouro no mercado de commodities, desde o grão e o minério até os rios, o peixe, a planta, a ave, o réptil e, mais aterrador, o próprio homem, aquele que habita, cuida e bem conserva o seu ambiente, sabendo como tirar dele seu sustento e seu alimento.
E é exatamente para que todos saibam como fazer isso sem espancar o bioma que o governo estadual, desde Reinaldo Azambuja e agora na gestão de Eduardo Riedel, insiste em manter desfraldada a bandeira impositiva do desenvolvimento sustentável. Da palavra ao compromisso concreto, este objetivo encontra sua mais recente guarida no Projeto de Lei 343/2023. É a chamada Lei do Pantanal, com a qual o Governo reforça e reestrutura a base jurídica do Estado para impedir atividades incompatíveis com o bioma. Incêndios, desmatamento, uso de agrotóxicos, interferência no curso dos rios, caça e pesca predatórias, hidrelétricas e similares são, no território pantaneiro, graves agressões.
A Assembleia Legislativa vai aprovar, com certeza, porque não será indiferente a um clamor da humanidade e não só do sul-mato-grossense. É o clamor da vida de pessoas e da natureza cuja respiração está ameaçada.