Ninho artificial, construído com tecnologia da Energisa, faz tuiuiús reocuparem área tombada
O ninho artificial construído após as queimadas que destruíram o natural – em 2020 na região do Pantanal sul-mato-grossense – alcançou um feito inédito tornando-se berço para o nascimento de filhotes de tuiuiú. O nascimento foi confirmado no dia 8 Outubro de 2023 por biólogos observadores.
Antes das queimadas, um ponto da BR-262 no caminho para a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, um ipê alto e imponente servia de morada para um ninho de tuiuiús. A ave-símbolo do pantanal, com seu rosto negro, papo vermelho e asas brancas de quase 3 metros de envergadura, impressiona em seu voo e na construção de seus ninhos na copa das árvores.
Em 2020, uma série enorme de queimadas destruiu 4,5 milhões de hectares na região do Pantanal, destruindo a vegetação e desalojando a fauna pantaneira. A tragédia sem precedentes acertou em cheio uma das mais famosas casas dos tuiuiús.
Por ser tão famoso, o ninho e o ipê eram pontos turísticos da região, tombados como patrimônio histórico do município. A destruição de toda essa área pelo fogo deixou os tuiuiús sem ninho e os moradores locais desolados. As queimadas podem acontecer por fenômenos naturais e também por ação humana, mas em 2020 os números foram os maiores já registrados.
Naquele momento, municípios, o estado e o país não estavam preparados para enfrentar os incêndios da maneira necessária. Em meio a essa crise, foi criado um comitê de prevenções de queimadas, com coordenação do governo do estado do Mato Grosso do Sul e participação da Energisa, que se mantém até hoje. A Energisa não vem poupando esforços para evitar que os incêndios aconteçam, participando ativamente desse processo de prevenção e recuperação das áreas atingidas. E as ações vêm dando resultado.
Uma dessas ações contou com a ajuda de Rodolfo Pinheiro, gerente de construção e manutenção na Energisa Mato Grosso do Sul, e trouxe de volta a ave-símbolo do Pantanal para uma paisagem conhecida. Nascido em Corumbá, Rodolfo viu o famoso ninho dos tuiuiús ainda criança.
Ele guarda na memória quando a família, saindo ou voltando de férias, parava às margens da rodovia para admirar e fotografar o voo e os pousos dos pássaros no alto ninho. Quando o ipê que servia de casa para os tuiuiús queimou, a tristeza foi geral. Rodolfo não poderia imaginar que faria parte do time que traria as aves de volta.
Ninho artificial – A ideia veio através do pesquisador Walfrido Tomás, da Embrapa Pantanal, e da pesquisadora Neiva Guedes, do Instituto Arara Azul: criar um ninho artificial, da mesma forma como é feito na Europa com as cegonhas, que são aves da mesma família dos tuiuiús. O contato com Rodolfo e a Energisa se deu por conta da tecnologia de construção de altas torres e de estruturas metálicas, que poderiam colocar o ninho na altura certa para os pássaros se readaptarem.
“Quando teve a queimada, a gente ficou muito consternado, foi muito triste. Para mim, pessoalmente, e para as pessoas que conhecem. Quando eles vieram falar comigo, eu pensei, “é muita loucura isso”, porque eu estava como gerente do departamento de construção e manutenção e caiu na minha mão (junto com o meu time, óbvio) um negócio que se relacionava com meu tempo de moleque, que eu tirava foto e admirava. Ter essa possibilidade de ajudar na restauração foi algo fantástico, uma sorte para mim”, contou Rodolfo.
A tecnologia da Energisa foi fundamental para viabilizar a ideia. Além da alta torre, o time de Rodolfo partiu dos desenhos de Walfrido para construir uma estrutura metálica octogonal em formato de taça, que serviria de apoio para os pássaros e seu ninho. Como alguns postes da Energisa no Pantanal já são ocupados por ninhos de aves, a equipe sabia que o material era seguro para abrigar os tuiuiús. Apesar de próximo à rodovia, o local era de difícil acesso por conta de um barranco. Sem auxílio de caminhão, trator ou escavadeira, a furação e fixação do poste foi toda feita manualmente pelo time da Energisa. Sempre com a supervisão da Embrapa, o poste foi colocado no local e a uma altura próxima daquela do ninho original.
“Quando a ideia surgiu, levei o projeto para a Fundação de Meio Ambiente do Pantanal do município de Corumbá. Foi tudo muito rápido e a Energisa abraçou o projeto naquele momento difícil das queimadas. Acompanhamos a instalação para que o ninho ficasse no mesmo local e na mesma altura do original. Os tuiuiús são fiéis aos locais dos ninhos, que são estratégicos para eles por conta do acesso aos alimentos e recursos para a subsistência”, conta Walfrido.
A instalação do ninho foi concluída em 2020, e chegou a ser notícia nacional. Mas aí veio a ansiedade: será que algum tuiuiú iria regressar? Será que escolheriam aquela estranha estrutura metálica para voltar a construir seu ninho ao lado da rodovia, naquela área já tombada pelo patrimônio histórico? Em pouco tempo, os técnicos da Energisa fotografaram a volta dos tuiuiús. A ave-símbolo do Pantanal voltava a ocupar o seu lugar, adotando o ninho artificial com vista panorâmica para a maior planície alagável do planeta. Uma enorme emoção para todos os envolvidos no projeto.
“É um momento muito gratificante! Conseguimos confeccionar o ninho que antigamente ficava ali na piúva e foi queimado nas queimadas do ano passado. Está aqui, missão cumprida! O casal de tuiuiús aceitou o ninho artificial”, comemora Emerson Leite, técnico de redes e linhas da Energisa MS.
Além do regresso das aves, outro enorme feito foi confirmado no dia 8 outubro de 2023. Pela primeira vez, filhotes de tuiuiú nasceram em um ninho artificial. Avistados por biólogos da Birdwatch no Pantanal, o acontecimento torna o projeto um sucesso completo e mostra como a união de políticas ambientais, boas ideias, investimento e tecnologia pode fazer a vida renascer em áreas afetadas pelo fogo ou pela ação humana.
“Foi muito importante ver a volta dos tuiuiús e a reprodução no ninho artificial. A espécie ocorre do sul dos EUA até o norte da Argentina e esse é um projeto pioneiro que passa uma grande mensagem sobre o impacto ambiental de ações humanas equivocadas. E também serve como um monumento, tanto para lembrarmos dos nossos erros, como para mostrar a resiliência da natureza e como ações humanas conjuntas e acertadas podem trazer impacto positivo”, reflete Walfrido.
A construção do ninho também envolveu toda a sociedade e a comunidade local. Um grupo de Facebook foi criado, em que turistas e moradores postavam fotos para ajudar a monitorar a ambientação dos pássaros ao ninho.
“Envolvemos a sociedade através do que chamamos de ciência cidadã, quando a comunidade municia os pesquisadores com fotos e relatos sobre um determinado acontecimento. O ninho original nunca falhou em reproduzir novos tuiuiús. Um ano antes do incêndio, 5 novas aves haviam nascido. Por conta da seca em 2021 e 2022, os tuiuiús não se reproduziram. Então ver em 2023 que o ninho artificial é capaz de abrigar e dar espaço para a reprodução das aves é algo maravilhoso”, emociona-se Walfrido.
A ação do ninho é simbólica pelo que representa a ave para o Pantanal, mas as preocupações e ações ambientais da Energisa não param por aí. Durante as queimadas, a Energisa doou EPIs (equipamentos de proteção individual) e combustível para as brigadas de incêndio, além de alimentos para os animais desalojados pelo fogo que foram resgatados em situação de vulnerabilidade.
Além disso, a Energisa também participa do projeto Abrace o Pantanal, que treina uma inteligência artificial para identificar focos de incêndio e proteger o pantanal mato-grossense. Por fim, o investimento em agroflorestas, em parceria com o Instituto Homem Pantaneiro, na Serra do Amolar, ajuda a recuperar espécies nativas para replantio em áreas afetadas por queimadas.
“As araras azuis fazem seus ninhos na cavidade das árvores, os tuiuiús na copa. Temos muita experiência com ninhos artificiais de araras. Ver esse ninho artificial dos tuiuiús refeito no mesmo local do ninho histórico é, além de todos os outros benefícios, uma ação educacional importante, para que sempre lembremos da importância da preservação das espécies e do meio ambiente”, afirma Neiva Guedes.