A justiça determinou o bloqueio e penhora das movimentações financeiras de Deivid Almeida, mas desde junho de 2022 o processo está parado
Assassinado com mais de dez tiros dentro da própria casa, Rangel Batista da Silva, de 19 anos, foi uma das vítimas do professor Deivid Almeida Lopes – preso desde 2017 por estuprar e assassinar o menino Kauan Andrade dos Santos, aos 9 anos.
Por anos, a família do rapaz executado nesta segunda-feira, em Campo Grande, lutou na justiça para receber indenização pelos abusos que ele sofreu ao lado dos amigos no Coophavila. O valor – que ultrapassa R$ 168 mil – nunca foi pago.
Rangel tinha 13 anos quando Kauan morreu. Os dois eram amigos e juntos cuidavam de carros na rua, iam a lan house e brincavam pelo Coophavila.
Foi nas ruas do bairro que conheceram o professor. Segundo a investigação da polícia, os dois iam frequentemente na casa de Deivid e por isso, quando o menino de 9 anos desapareceu, Rangel foi chamado para prestar depoimento na delegacia – a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Aos poucos, com o depoimento de Rangel e de vários adolescentes da região, a polícia comprovou que ele e o amigo foram aliciados por Deivid: eram induzidos a ver filmes pornográficos, abusados e pagos ao fim do crime. Recebiam R$ 15 e se levassem outras vítimas até casa do homem, ganhavam o dobro.
Diante da crueldade do crime, a família de Rangel recorreu a justiça em busca de uma indenização pelos danos causados ao menino.
Vida à margem
Enquanto ele crescia no mundo do crime e acumulava passagens por furto e roubos. A defesa tentava provar que o estupro vivido por ele havia causado traumas profundos – o que inclusive foi comprovado durante toda o processo da morte do Kauan.
Deivid Almeida foi condenado pelo assassinato do menino de 9 anos – uma pena de mais de 66 anos – e no mesmo ano em que foi condenado a pagar a indenização de R$ 100 mil a Rangel.
O defesa do professor recorreu. No TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), conseguiu reduzir o valor para R$ 50 mil, mas nem assim pagou.
Ao longo dos últimos quatro anos, os advogados tentaram receber o dinheiro – que com juros já ultrapassa os R$ 168 mil. A justiça determinou o bloqueio e penhora das movimentações financeiras de Deivid, mas desde junho de 2022 o processo está parado, sem qualquer manifestação do professor.
Kauan
Kauan Andrade dos Santos, de 9 anos, morreu asfixiado enquanto era estuprado e, em seguida, o corpo foi esquartejado, colocado em um saco e jogado no rio Anhanduí. A ponte onde ele teria sido jogado fica a 200 metros da casa dele.
O Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil fez inúmeras buscas no local, mas ele nunca foi encontrado. Na época, os militares enfrentaram dificuldade por conta da água muito suja, árvores e galhos nas margens, além da quantidade de lixo no rio.
A morte de Rangel
Rangel foi morto a tiros na noite dessa segunda-feira (21) na casa em que morava no Nova Lima.
Os autores chegaram de moto – um ficou na esquina e o outro foi até o rapaz. Depois de atirar no morador, os suspeitos fugiram. Rangel foi socorrido, mas não resistiu. Na casa, a polícia encontrou cápsulas de pistola 380.