“Foram dois anos investindo dinheiro do próprio bolso e agora a Fundect chegou para dar aquele último impulso no produto”, diz Caio Sottovia Gomide.
Criar uma impressora 3D mais econômica e capaz de reutilizar materiais que seriam descartados. Este é o desafio do jovem Caio Sottovia Gomide, de 20 anos, pesquisador e fundador da startup Recicle 3D.
Há dois anos o jovem técnico e graduando em Engenharia Mecânica no IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) vem desenvolvendo uma extrusora compatível com impressoras FDM comerciais que seja capaz de usar, além de filamentos, pellets poliméricos, materiais recicláveis e outros tipos de produtos que possam ser moldados. Para isso ele conta, desde o início, com a parceria do engenheiro de materiais, professor doutor Matheus Neivock, e do técnico em mecânica e colega de turma no Instituto, Miguel Amorim.
O impulso para continuar a pesquisa e transformar o produto em negócio veio por meio da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), responsável por coordenar os investimentos, do Governo do Estado, em inovação e pesquisas científicas.
O projeto “Impressão 3D reciclável – Ressignificando o lixo” foi selecionado para receber R$ 86 mil do Programa Centelha II, parceria da Fundect com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) – empresa pública que financia estudos e projetos -, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Além de recursos financeiros, o programa oferece capacitações e outros suportes para estimular a criação de empreendimentos inovadores.
Caio Sottovia Gomide explica que a tecnologia Fused Deposition Modeling (FDM) é baseada na utilização de filamentos poliméricos enrolados em carretéis, que custam em média R$ 120 o quilo. A extrusora é o dispositivo principal que pega esse fio plástico, espreme através de uma extremidade quente e o material derretido é depositado em camadas no leito de impressão, como uma pistola de cola quente.
“Com a extrusora universal que estamos desenvolvendo, adaptável a qualquer impressora 3D, o usuário substitui o filamento por pellet polimérico, uma espécie de plástico granulado, que é a matéria-prima usada na fabricação dos fios e custa, em média, R$ 50 o quilo. Também vai poder reciclar impressões que não deram certo e acabam descartadas no lixo. Outra opção que estamos testando é o pellet feito com tampinha de refrigerante, produzido por uma recicladora aqui de Campo Grande, que custa R$ 2,50 o quilo “, destacou.
Segundo o jovem empreendedor, no mercado nacional não existe outro concorrente estabelecido que trabalhe com o segmento de extrusão de pellets para impressoras 3D. “O único referencial nesta tecnologia, são empresas internacionais que apresentam equipamentos similares com os mesmo resultados aos que já obtivemos, portanto, consideramos que no Brasil somos pioneiros e referência nesta tecnologia”.
Os desafios técnicos são grandes, pois não significa apenas substituir o material que será usado na impressão, mas também a mudar e revolucionar todo um conceito já estabelecido para a tecnologia de impressão 3D.
Investimento e apoio
Caio conta que foi preciso fabricar inúmeros protótipos para validação e teste de funcionamento e são horas de trabalho para avaliar angulações e passos das roscas de extrusão – o aquecimento a ser utilizados para fusão do material, bem como sua localização, quantidade e potência -, além de adequar o protótipo funcional as novas especificações avaliadas e aprimorar o layout do equipamento para transformá-lo em um produto com design atrativo.
“Foram dois anos investindo dinheiro do próprio bolso e agora a Fundect chegou para dar aquele último impulso no produto. Acredito que, ao final de um ano, teremos um produto comercialmente viável, que poderá ser lançado no mercado”.
E a inovação não para por aí. O pesquisador quer reinventar a forma de imprimir, proporcionando maior flexibilidade e criatividade na produção de peças. “Estamos testando a extrusora com outros produtos além do plástico. Já fizemos peças com chocolate e estamos prontos para testar a impressão 3D com pastas alimentícias, que poderão ser usadas em confeitarias. Também queremos testar o concreto e quem sabe no futuro poderemos fazer casas, ou parte delas, em impressão 3D”, planeja Caio.
No segundo edital do Programa Centelha, a Fundect apoia 50 startups sul-mato-grossenses, com um total de R$ 4,3 milhões, sendo R$ 2 milhões com recursos da Finep, R$ 1,3 milhões do CNPq e R$ 1 milhão do Governo Estadual.
Márcio de Araújo Pereira, diretor-presidente da Fundect, destaca que o Programa Centelha é importante para apoiar a transição tecnológica na economia de Mato Grosso do Sul. “A Recicle 3D, por exemplo, propõe uma inovação disruptiva e traz uma solução transformadora que impacta diretamente na sociedade. É o que precisamos para uma economia verde e sustentável”.