A Polícia Civil de Naviraí apresentou mais detalhes sobre a investigação do crime de tortura ocorrido em uma creche particular clandestina no município, onde crianças eram agredidas física, moral e psicologicamente, além de dopadas com remédios que causam sonolência para que as cuidadoras pudessem assistir séries de televisivas.
INVESTIGAÇÃO
Durante coletiva de imprensa da tarde desta terça-feira (11), o delegado regional de Naviraí, Thiago José Passo da Silva e a delegada titular da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher), Sayara Quinteiro Martins Baetz, afirmaram que na semana passada uma escola do município entrou em contato com o Conselho Tutelar para denunciar os maus tratos no local.
Entre os casos, uma criança que é ex-aluna da creche apresentava crises de ansiedade por ter presenciado cenas de tortura enquanto ficava no local.
Com autorização judicial foram instalados equipamentos de captura de áudio e vídeo, onde na segunda-feira (10), em apenas duas horas de investigação, foi possível presenciar as cenas chocantes, conforme relatado pelos policiais.
Até o momento dez pais foram ouvidos e relataram que os filhos chegavam com sonolência além do normal em casa e alguns apresentaram comportamento estranho, que indicava agressões, mas que não tinha ficado claro do que se tratava.
A polícia segue com as investigações e buscam ouvir mais pais.
TORTURA
Conforme os policiais, as crianças eram dopadas com medicamento para vômitos e enjoos, proibido para menores de 2 anos e que tem como um dos efeitos a sonolência. As vítimas eram dopadas para que parassem de chorar e dormir enquanto as cuidadoras assistiam séries de tv.
Além disso, foi possível presenciar a proprietária do estabelecimento, que também era cuidadora, batendo a cabeça de uma criança de 11 meses contra o sofá, chacoalhando e jogando outra criança no colchão, dando tapas, gritando, entre outras ações.
As cuidadoras ainda xingavam e agiam com menosprezo com as vítimas.
Outro caso relatado foi quando uma criança urinou e as cuidadoras obrigaram as demais crianças a chamarem de “mijão”, afim de reprimir o ato e que ela não o fizesse mais.
CRECHE CLANDESTINA
Com aproximadamente 40 crianças matriculadas, com idades entre 11 meses e 7 anos, a creche apresentava ausência de brinquedos e condições higiênicas e sanitárias inadequadas.
Com o lema “Seu bem mais precioso em boas mãos”, o estabelecimento tinha quatro anos de funcionamento. A proprietária iniciou como babá e cresceu na profissão até abrir a creche, que não possuía a documentação necessária e funcionava de forma clandestina.
ENVOLVIDAS
A proprietária do local, de 36 anos, foi presa em flagrante pelo crime inafiançável de tortura, além de lesão corporal, exposição ao risco e dopagem.
Ela nega que tenha dopado as crianças e afirma que o medicamento apreendido era para consumo próprio, mas que os pais a autorizavam a ministrar medicamentos.
A outra cuidadora, de 26 anos, foi ouvida e responde em liberdade. Ela é investigada por omissão ao crime de tortura e havendo indícios a polícia vai representar contra a mesma.